Conto

Capítulo VII: Ele

Depois da entrega daquele papel repleto de cor e emoção, o tempo já ia longe, dois meses já se faziam sentir e nada mais de Gonçalo. Camila começava a ficar sem filtro por dentro, os dias eram menos bonitos, o céu já não era tão azul e o sol já não aparecia todos os dias. Aquele distanciamento não lhe agradava, mesmo que o perto deles não fosse tão perto. Nem a ela, nem a nós que agora sabemos disto. 

Estaria Camila realmente apaixonada? Estaria ela a entrar dentro do amor pela primeira vez? A verdade é que ela tinha saudades de o ver. Camila nunca pensou ser o tipo de mulher que fosse gostar deste “tipo de coisas” … de eles se encontrarem só com um olhar. Isso é tão raro que dá vontade de trazer essa raridade presa a nós. Ali não era o tempo, era a qualidade dentro da intensidade em que eles caíram. 

Camila tropeçou nele e, talvez, talvez, nunca mais se despegue. Acho que a vida dela levou uma bagunça plena, iniciando-se um percurso virado do avesso. Bem, não que a própria não tivesse gostado de outros rapazes, mas amar, ela própria sabia que não. Embora, na altura achando que fosse esse o sentimento que a invadia, depois de muito tempo passar sem ninguém lhe ficar à mercê desse tão valorizado sentimento, acabou por perceber que foi tudo uma libertação de purpurinas simples. Aquelas que até nos dizem alguma coisa, mas que por tão simples, não ficam para sempre, ficam por um tempo limitado, voando de nós sem dor. Mas o amor é um sentimento mais forte e que não parte nunca de quem o contém, mesmo que a pessoa já não esteja mais presente. O amor será sempre casa de quem amamos, caso contrário, não era amor. Quando amamos, essa pessoa fica, para sempre, a morar dentro de nós, como se fôssemos o único lugar disponível para estacionar. E, se ainda não amaste ninguém, é porque ainda não estavas preparado para amar. O amor é como plantar um jardim inteiro e não deixar que as flores que habitam nele murchem. É cuidar todos os dias, é olhar todos os dias para o mesmo e vermos sempre a beleza que ele nos envia, é não nos cansarmos de cuidar dele, é não abdicarmos dele por uma futilidade, é não o deixar sozinho, é andar sempre com ele em volta do nosso mundo. Mas tudo isto não é novidade, e só se não quisermos, é que não nos perdemos nele. 

“Eu começo a ficar também dentro do amor com tanto amor que por aqui se vive. Meu Deus! O amor é mesmo um piroso profundo.” Eis que chegaste, voz interior, a tua pronúncia deixa saudades, desde que começaste a ser mais afável o mundo já gosta mais de ti. Acho que podes ficar a ser borboleta. O que te parece?!

Bem, voltando. 

Enfim, o amor é tanto que onde tem pouco já é muito. O amor é tornar as coisas simples em grandes gestos. Camila sentia que estava a entrar dentro de um amor e agora ele desapareceu? A vida por vezes é um desencontro, mas espero mesmo que estes dois não vivam num desencontro constante. 

Camila, depois de Gonçalo lhe ter oferecido aquele papel que virou sol num dia de chuva, pensou que a melhor forma de lhe agradecer aquele gesto, dadas as circunstâncias, seria traduzir-lhe em palavras o que estava a vivenciar e começou a plantar aquele sentimento numa folha.  

(a próxima edição continuará a acrescentar confettis de amor a esta história).

Juliana Gomes, escritora
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