Roteiros

Um passeio pela Misericórdia

Num olhar pela história não é difícil perceber que a Igreja esteve sempre na vanguarda da assistência social aos mais desprotegidos.

Nos momentos mais complicados, sobretudo quando os ciclos económicos foram menos favoráveis, a Igreja sempre teve instituições do seu seio que se preocuparam com os mais frágeis, aqueles que realmente necessitavam de assistência.

Em Portugal, nos finais do século XV, mais concretamente em 1498, nascia em Lisboa uma instituição particularmente votada aos mais necessitados, tendo por base as Obras de Misericórdia, resultado da especial intervenção da Rainha D. Leonor e com o total apoio do Rei D. Manuel. Na capital do reino nasceu a Santa Casa da Misericórdia que, rapidamente, foi replicada no país.

E uma das Misericórdias mais antigas do Alto Minho é a de Caminha, fundada em 1516, numa evolução natural de uma assistência hospitalar que já ali existia.

Ora, chegar a Caminha não é nada difícil. Vindos de Viana do Castelo há uma forma célere de lá chegar, através da A28, que nos transporta em formato via rápida pelo meio da Serra d’Arga. Mas, também podemos ir a Caminha pela Estrada Nacional 13, num trajeto à beira mar, com uma paisagem verdadeiramente única.

Se optar por esta última, que aconselhamos vivamente, depois de passar Vila Praia de Âncora, Moledo, o pinhal do Camarido, chega à vila de Caminha. Na rotunda, que fica perto do cais de embarque do ferry, saia logo na primeira saída e entre na vila. Vai passar em frente à capela de S. João e, depois do cruzamento, tem o parque de estacionamento do Tribunal de Caminha, o local ideal para deixar o carro. Depois de estacionado, volte a esta estrada e vá em direção ao centro até encontrar o Terreiro.

A igreja da Misericórdia de Caminha fica logo à sua direita. Aqui, o templo é conhecido pela população por uma outra designação. É a igreja de Santa Rita de Cássia, a padroeira de Caminha. As festas concelhias têm aqui o seu epicentro e a fé na santa das causas impossíveis por parte da população é enorme. 

Antes de entrarmos na igreja, não se esqueça de olhar para o portal do templo, que revela uma grande afinidade com o da igreja matriz, sendo uma obra do mestre pedreiro Cristóvão Gomes. Mas a grande surpresa está no interior. Fruto das obras realizadas no século XVII, esta igreja continua hoje a possuir uma talha barroca que nos deixa sem fôlego mal entramos. Não menos extraordinários são os azulejos oitocentistas que ornamentam o templo.

Aqui, vale a pena entrar, parar, sentar, admirar, meditar, rezar a Santa Rita de Cássia e até elogiar o trabalho que a Santa Casa da Misericórdia de Caminha realizou na conservação e preservação do seu património.

Ainda se recorda onde deixou o carro? Pois, é hora de regressar, mas não deixe de tomar um café no Terreiro. Antes de ir para o carro, em frente ao parque de estacionamento há uma pastelaria onde vendem as melhores telhas de amêndoa! Não resista, vale a pena! De volta à estrada, regressamos à EN 13, em direção a norte, porque o nosso destino é Vila Nova de Cerveira. Agora, a companhia é o rio Minho. Passamos por Seixas, Lanhelas, ainda em Caminha, por Gondarém, já em Cerveira, até chegar à vila. O nosso objetivo é chegar ao centro histórico e, para isso, o carro pode ficar ao pé da Câmara. Entramos no castelo que D. Dinis mandou fazer e, depois do grande portão, temos de seguir pela direita até chegar à igreja da Misericórdia. 

Não é fácil encontrar o templo aberto, mas se tiver a sorte de as portas não estarem fechadas, entre e admire a conjugação entre o barroco e o neoclássico.

 Nesta igreja, a atenção recai para a imagem do Ecce Homo, que teve a fama de operar milagres, com devotos na Galiza. Os cerveirenses chamam-lhe carinhosamente o Senhor Ecce Homo velhinho. Conta-se que no século XIX, num ano de grande seca, houve aqui grandes orações e, quando a imagem saiu em procissão, o tempo mudou repentinamente e choveu torrencialmente.

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