Sugestão de Leitura

Chuva Miúda, de Luís Landero

Maio continuará, em muitos aspetos, a ser um mês atípico à semelhança de abril e março. O país tenta conciliar as necessidades de assegurar a saúde de todos nós e, simultaneamente, a sua própria recuperação económica. Ainda que tentemos manter-nos otimistas, é normal sentir receio ou ansiedade. Não podendo, infelizmente, resolver o que se passa no mundo, posso recomendar um bom livro que, em tempos de restrições, sempre lhe permitirá viajar. 

Considerado o melhor livro de 2019 pelo El País, Chuva Miúda, de Luís Landero, é um romance sobre a família contemporânea com todas as suas relações tortuosas. Aqui, as palavras são corrosivas, revelando os rancores de uma família desfeita pela memória. Luís Landero é magistral, oferecendo personagens densas e de enorme complexidade que dizem tanto no silêncio, como no grito. Esta é a história das suas vidas, contadas por cada uma e por todas. 

Face ao octogésimo aniversário da sua mãe, Gabriel decide organizar um almoço de família. Liga com as irmãs Andrea e Sónia que, desconfiando do sucesso de tal ideia, depressa chamam à colação memórias de outros tempos. Segundo elas, a mãe nunca as amou da mesma forma que amou Gabriel. Sónia diz que Andrea nunca conheceu o amor, Andrea diz que o ex-marido de Sónia, na verdade, estava apaixonado por ela. A figura matriarcal surge como uma figura opressiva, recriminadora e rancorosa. O filho mais novo como o favorito da mãe, e as irmãs como as sacrificadas em virtude da subsistência económica da família. Mas o brilhantismo de Chuva Miúda é que nenhuma destas conceções está, na verdade, correta. No centro da narrativa, surge-nos Aurora, esposa de Gabriel e confidente de toda a família. É esta protagonista que nos vai conduzir pelas complexidades das relações afetivas de cada um dos seus membros.

Pautado por um característico lirismo, Chuva Miúda percorre diferentes momentos cronológicos da história recente Espanhola, que vão desde o franquismo aos dias atuais. No centro está o rancor e as múltiplas memórias de um mesmo acontecimento. A tensão é palpável assim como o cansaço que se vai apoderando da nossa protagonista, Aurora, que absorve as emoções e palavras dos que a rodeiam porque este é um drama de jogos psicológicos onde o conflito se tornou forma de viver e sentir. Um dos melhores romances que já tive o prazer de ler, razão pela qual, não podia deixar de o sugerir, nesta edição.

“Agora já sabe com toda a certeza que as histórias não são inocentes, não inteiramente. Talvez não o sejam as conversa quotidianas, os descuidos e lapsos verbais ou o falar por falar”. 

Nascido em Badajoz, em 1948, Luis Landero é considerado um dos nomes essenciais da literatura contemporânea Espanhola.

Boas Leituras.

 

Daniela Guimarães
Blogger de Literatura  
@portasetenta   /  www.portasetenta.pt 

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