Roteiros

Ainda por terras vilacondenses

Neste mês de agosto continuamos por terras de sol e praia, continuamos nessa bela cidade que é Vila do Conde, para descobrir um pouco mais do seu património.

Depois de termo descoberto a belíssima capela de Nossa Senhora da Guia, mesmo ao lado do Forte de S. João Baptista, junto à praia, agora, acreditando que as nortadas típicas das tardes do mês de agosto não vão faltar e que o melhor mesmo é procurar refúgio no abrigo das ruas, vamos à procura de tesouros artísticos dentro da cidade que prometem deixar os visitantes de boca aberta.

E o nosso rumo é a rua do Socorro, para conhecer a lindíssima capela de Nossa Senhora do Socorro e que, quando foi erguida, tinha como orago Nossa Senhora da Boa Viagem.

Quem sobe a rua e vai descobrindo este edifício construído nas margens do rio Ave, não fica indiferente ao facto de estarmos perante uma capela com características arquitetónicas orientais, certamente ao gosto de quem a mandou construir.

Contam as monografias históricas que a petição para a edificação deste pequeno templo data de 1599, sendo que em 1603 já estava pronta. Na lápide que está no interior descobrimos quem foi que a mandou construir e, a partir daí, percebemos as suas feições. A fundação desta capela deve-se a Gaspar Manoel, Cavaleiro professo da Ordem de Cristo, Piloto-mor da Carreira da Índia, China e Japão, e da sua mulher Bárbara Ferreira d’Almeida.

Ainda segundo as mesmas fontes, Gaspar Manoel, que se encontra ali sepultado, foi um marinheiro vila-condense experimentado, que escreveu o “Roteiro e Advertências da Navegação da Carreira das Índias”.

Por isso, não é de estranhar que a capela de Nossa Senhora do Socorro tenha uma configuração a lembrar a arquitetura indiana. O historiador Joaquim Pacheco Neves chama mesmo a atenção para a “abóboda encimada por uma cruz”, que “assenta sobre um quadrilátero, onde corre uma cornija enfeitada por florões de granito”.

Mas, atenção, não se fique apenas pelo exterior do templo. Dizem-nos que quem tem a chave são os vizinhos, pelo que se pode entrar. E vale mesmo a pena entrar para ver o conjunto de azulejos do século XVIII, com representações de várias cenas de Jesus e de sua Mãe, Maria.

Diz-nos o monsenhor J. Augusto Ferreira, no seu livro “Vila do Conde e seu Alfoz”, que a capela de Nossa Senhora do Socorro recomenda-se “exteriormente pela sua forma de pagode indiano, e interiormente pelos magníficos azulejos de figuras de que está revestida”. Não hesite também em admirar a paisagem… O rio Ave e a sua foz.

Ao sair para a rua do Socorro dê ainda uma espreitadela sobre as placas epigrafadas que estão no muro exterior que delimita o adro. Vai descobrir menção às obras de conservação realizadas mas, sobretudo, vai conhecer os versos que José Régio dedicou a Nossa Senhora do Socorro.

Não é de estranhar tal devoção do autor de Cântico Negro ou Fado Português, não tivesse ele nascido em Vila do Conde. Aliás, é precisamente para a casa que foi sua pertença que vamos agora. A Casa Museu de José Régio está situada na Avenida José Régio, sendo muito fácil de localizar no centro arquitetónico urbano do século XIX.

Aberta ao público para visita, esta casa alberga ainda o Centro de Estudos Regianos, composto por salas de exposição, depósitos, salas de estudo e um auditório ara 50 pessoas.

Tenho a certeza que há muito a dizer sobre este imóvel e sobre quem nele habitou. Para já fica a sugestão de visita. Para breve prometo voltar aqui a falar desta casa e de outras situadas aqui em Vila do Conde onde habitaram escritores portugueses, prometendo que muitas pessoas vão ficar admiradas.

José Carlos Ferreira
Jornalista

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