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Roteiros pelo Património (Por Cabeceiras de Basto)

Os Roteiros pelo Património deste mês de março levam-nos até ao centro de Cabeceiras de Basto para conhecer um dos monumentos mais bonitos do distrito de Braga.

Há não muito tempo, para chegarmos a Cabeceiras de Basto, saindo de Braga, tínhamos apenas duas possibilidades e, qualquer uma delas, com as suas agruras. Uma destas possibilidades era, e continua a ser, ir em direção a Guimarães, seguindo depois até Fafe, onde a Estrada Nacional 311 nos levava até Cabeceiras de Basto, por paisagens fantásticas. Era quase uma hora de caminho. A outra possibilidade era, e também continua a ser, ir até à Póvoa de Lanhoso e depois, passando por Sobradelo da Goma, enfrentar uma série de curvas e contra curvas que parecem não parar, até chegar a Cabeceiras de Basto. Confesso que era este o meu caminho de eleição pela sua beleza e por me fazer lembrar a estrada da costa Norte da ilha de S. Miguel, nos Açores.

Hoje, chegar a Cabeceiras de Basto é muito mais simples e, sobretudo, mais rápido, indo pela auto-estrada, ficando-se a perder pelo facto de não se apreciar a paisagem. Mesmo assim, quase a chegar, ninguém fica indiferente ao imponente Monte Farinha, no concelho vizinho de Mondim de Basto, mais conhecido pela sua subida até ao Santuário de Nossa Senhora da Graça.

Mas, o nosso destino é Cabeceiras de Basto, mesmo no centro da vila, onde está o grandioso Mosteiro de S. Miguel de Refojos, cuja fundação se perde nas brumas do tempo. Os historiadores não têm conseguido descortinar quando terá sido construído, uma vez que o cartório terá desaparecido num incêndio. Contudo, não hesitam em dizer que estamos perante um convento antiquíssimo que pertenceu à Ordem Beneditina.

Para os historiadores, Rejojos, ou Refoios, indica-nos, na origem, um lugar de refúgio, retirado e tranquilo, onde os monges e os eremitas se podiam entregar à oração e à vida espiritual.

A prova que o mosteiro já existia no século XII é a outorga do couto do Mosteiro de S. Miguel de Refojos pelo nosso primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, em 1131. É neste mesmo século que os monges ali existente decidem adotar a Regra de S. Bento.

A verdade é que, olhando para o monumento que temos hoje, não encontramos os traços desse antigo mosteiro, mas sim a arquitetura barroca do século XVIII. O exterior vale a pena ser admirado com muita atenção, onde o granito é finamente trabalhado, com pormenores artísticos de grande qualidade.

E se o exterior já nos deixou de boca aberta, prepare-se porque o interior é ainda mais sumptuoso, não só pela talha de estilo rococó da época Josefina, como pelos dois órgãos, um dos quais mudo, que ali temos.

Tanto o órgão da igreja do Mosteiro de S. Miguel de Refojos como o órgão mudo, que flanqueiam o coro alto numa simetria típica do barroco, são peças fundamentais do templo e de uma beleza inquestionável.

Sente-se num dos bancos da igreja e tente descortinar e descobrir as inúmeras máscaras, sátiros, anjos e outros ornamento, sem esquecer as estátuas das alegorias que foram pintadas de branco em fingimento de mármore.

Afirmam os historiadores, que as caixas destes órgãos foram riscadas e realizadas, em parte, por Frei José Santo António de Vilaça, com a colaboração do organeiro galego Francisco António Solla.

Neste interior, os altares são também eles dignos de serem apreciados com muita atenção, sem esquecermos de imaginar como seria a vida religiosa aqui dentro com a presença dos monges beneditinos.

No final desta visita, certamente que o estômago estará a reclamar alguma coisinha para reconforto e retempero de forças, sabendo também que as gentes de Cabeceiras de Basto são exímias na sua gastronomia.

Na minha modesta opinião é quase imperdoável sair de Cabeceiras de Basto sem visitar o Luís do Outeirinho, onde o bacalhau na brasa com batata a murro, regado com o excelente azeite da região, acompanhado pela broa de milho, às vezes a chegar à mesa ainda quente, são divinais. Ou ainda, sem ir degustar ao Caneiro, em Arco de Baúlhe, o famoso arroz de polvo, que é único e incomparável. Garanto que não há outro igual.

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