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1 ano de Covid-19. O impacto na vida das empresas

Foi há cerca de 1 ano que a Covid-19 começou a circular entre nós. Desde aí, evoluiu e infetou aproximadamente 800 mil pessoas em Portugal, provocando a morte de mais de 16 mil. Como se não bastasse, a problemática tornou-se muito mais abrangente. Da economia ao ensino, passando pela cultura ao desporto, a Covid-19 tudo atingiu, sem dó nem piedade. Não só agravou as desigualdades sociais como expôs as debilidades e as fragilidades estruturais. No sentido de perceber o impacto da pandemia Covid-19 na vida das empresas e dos empresários, a revista Minha foi conhecer algumas realidades na nossa região, em diferentes áreas de atuação. Nas próximas páginas, conheça histórias reais e testemunhos empresariais que nos relatam como foram vividos estes últimos 12 meses de atividade. Ou falta dela…

Setor automóvel com quebras sem precedentes

A indústria automóvel contribui significativamente para a economia global, mas o setor sofreu em 2020 uma quebra sem precedentes, consequência da Covid-19. A pandemia teve um impacto bastante negativo neste mercado e o setor acabou por ser muito penalizado nos últimos meses.
O grupo Só Barroso trabalha em diferentes áreas (manutenção automóvel, comércio automóvel e seguros e créditos). Os efeitos foram distintos. «Na área da oficina, praticamente, nunca paramos. O trabalho até aumentou ligeiramente. Nos seguros, os efeitos também não foram muitos. Mas relativamente ao comércio de automóveis, as coisas foram muito complicadas», refere o administrador, Américo Barroso. Para o empresário, a pandemia «foi muito violenta, economicamente». «A Só Barroso é das empresas deste setor melhor preparadas, porque trabalha com capitais próprios, instalações próprias e reúne uma equipa capacitada e competente. Temos uma casa estável e que aguenta fortes vendavais. Mas a verdade é que tivemos uma grande quebra. Foi um ano desastroso, com uma redução de 30 por cento em termos de produção. Os meses de julho, agosto e setembro até correram muito bem, diria até que foram normais, mas a partir de outubro, com o número de casos novamente a aumentar, voltamos a sentir negativamente os efeitos da pandemia. E os últimos dois meses deste ano, foram drásticos. Não sabemos como será daqui a uns dias, semanas ou meses. Não sabemos se não irá surgir uma nova vaga. E vivemos na incerteza. Sou empresário neste ramo há quase 40 anos, já atravessei várias crises, mas nenhuma se compara a esta. Não existe qualquer perspetiva em relação ao futuro e estamos com as “calças na mão”», lamenta, acrescentando que o único lado positivo da pandemia «é que veio alertar os empresários e o consumidor final no sentido de que não dependemos de uma boa casa, de um excelente produto, de uma acertada divulgação, mas sim de forças exteriores». «De repente aparece uma pandemia e para tudo», reforça.
O empresário conta-nos que a primeira medida passou pela redução de custos/despesas. «O objetivo passava por sermos mais produtivos e diminuirmos as despesas, inclusive ao nível de consumíveis. Porque sabíamos que as receitas iriam ser mais reduzidas», refere.
Recorrer aos apoios foi também uma solução. «Em março de 2020, aderimos ao layoff, em agosto, ao apoio à retoma e, em janeiro deste ano, voltamos a aderir ao layoff. Ao contrário do que dizem muitos empresários, tivemos apoios. O Estado esteve ao lado das empresas que cumprem. Temos uma organização contabilística e fiscal limpa e, no dia que submetemos a candidatura foi rapidamente aprovada. Foi uma ajuda visível e muito importante», destaca.
Para Américo Barroso, as perspetivas de futuro, neste momento, são as mesmas de maio do ano passado. De incerteza. «Está a acontecer um desconfinamento, mas não sabemos o que irá acontecer daqui a 15 dias. Tudo depende da evolução da pandemia», perspetiva. No entanto, o empresário prevê uma grave crise financeira. «A grande maioria das pessoas aderiu às moratórias e, neste período, até tiveram mais suporte financeiro. O problema é quando terminarem as moratórias e o acesso a créditos. Há muitos negócios que não vão sobreviver e muita gente vai passar dificuldades financeiras. Os próximos dois ou três anos serão muito difíceis. E temos outro problema, porque o Banco Central Europeu está a aguentar este terramoto, com taxas de juro negativas. Se porventura, as taxas subirem, vai existir aumento nas prestações das casas, e muitas famílias vão ficar aflitas», antecipa.
As mesmas dificuldades foram sentidas na Confiauto. «A pandemia teve enormes efeitos negativos ao nível da nossa atividade. As interrupções de contactos tiveram efetivamente uma redução grande nas nossas vendas. O mercado automóvel, chegou a quedas de 80 % nos primeiros meses, vindo a reduzir essas quedas até final do ano em que terminou com menos 35% de vendas. As nossas oficinas mantiveram muito bons níveis de atividade o que, no computo geral, permitiu salvar o ano», relata o administrador Gonçalves Pereira. Lidar com a problemática não tem sido fácil e a solução passou por «fazer um acompanhamento de muita proximidade, sobretudo na fase inicial». «Tudo mudava de uma hora para a outra. Não havia possibilidade de planear muito e tudo era muito reativo», explica.
Para o empresário, houve muito receio no futuro. «Nunca ninguém está preparado para ter de fechar empresas e ficar confinado. Por isso, os primeiros sentimentos foram de muita preocupação pela enorme incerteza do que se estava realmente a passar e de como poderia evoluir. Ao longo do ano, fomos aprendendo e criando resistências para podermos raciocinar e irmos tomando a cada momento as medidas mais ajustadas. Foi difícil», garante.
Gonçalves Pereira conta que foi necessário reajustar os processos internos. «Tivemos que implementar métodos e iniciar o trabalho à distância e de interação interna e externa. Se esta pandemia tivesse surgido há 10 anos atrás, tudo seria ainda mais difícil. Sem dúvida que o desenvolvimento atual de ferramentas digitais, foi crucial para mitigar muitos dos efeitos negativos na atividade da empresa e na economia em geral. Nesse aspeto, antecipamos programas de digitalização de desmaterialização de processos, já programados e ganhamos alguns anos na nossa reorganização. Conseguimos manter um elevado nível de comunicação interna e externa e de interação com os nossos clientes e potenciais clientes que resultou num grande amortecimento dos efeitos da crise», revela.
O empresário acredita, contudo, numa evolução. «Ser empresário implica ser otimista. Iremos ter, claro, a curto prazo, dificuldades, porque houve uma grande destruição de economia e alguns sectores chave estão em crise profunda. No entanto, acredito que, face à maior onda de solidariedade que se verificou a todos os níveis no mundo, mas sobretudo na europa, a injeção de apoios diretos ou indiretos, vá relançar a economia a médio prazo e continuidade a longo prazo. Temo apenas que alguns dos recursos que vão surgir para essa reativação, não tenham a mais eficiente aplicação», assinala.
Na Bracae Auto, os impactos também têm sido negativos. «Face à necessidade de encerrar o estabelecimento comercial, nos períodos de confinamento geral, e à redução da confiança dos portugueses, o último ano tem sido de muita incerteza no nosso negócio, com consequentes quebras de faturação e constante necessidade de adaptação e reinvenção à realidade do mercado. Para ajudar na mitigação do impacto, a empresa recorreu ao layoff e à redução do horário de trabalho, ajustando os recursos humanos à redução da procura por parte do mercado», explica Carla Silva. A responsável pela empresa assegura que foi necessário, desde logo, reforçar a presença na internet, com vendas 100% online. «Aqui, o único contacto com o cliente é a entrega da viatura à porta de sua casa. Passamos também a oferecer aos clientes a possibilidade de efetuar uma visita, à distância, à empresa e às viaturas através de videochamada», conta.
A empresária acrescenta ainda que, ao longo deste último ano, a Bracae Auto «aumentou significativamente os custos da atividade com as medidas anti-COVID para garantir a segurança dos seus clientes e colaboradores, com a colocação álcool gel e respetivos dispensadores, máscaras, luvas, desinfetantes de superfícies/viaturas, anteparas nos pontos de atendimento, passando ainda a higienizar as viaturas e as instalações com maior frequência». Para os próximos tempos, Carla Silva considera «existir muita incerteza e uma certa apreensão quanto à evolução da pandemia e dos níveis de desemprego», fatores que «podem comprometer seriamente a procura pelo mercado automóvel».

Online é a nova casa dos negócios de beleza e bem-estar


O setor da beleza e bem-estar tem sido um dos mais afetados durante a pandemia. A atividade foi fragilizada devido ao obrigatório encerramento dos espaços, levando à perda de uma elevada percentagem de faturação. A falta de apoios foi uma realidade que se agrava agora em 2021. Em alguns casos as vendas online ajudaram a cobrir os efeitos negativos provocados pelo encerramento físico das lojas. Foi o caso da empresa Folha D’Água que decidiu trabalhar e comunicar mais para impulsionar as vendas pela loja online para o cliente final. A empresa, que desenvolve produtos naturais a pensar no bem-estar físico e mental das pessoas, confessa que mesmo assim não conseguiu recuperar o volume de vendas de 2019.
Marylène Lombardo explica que para contactar e despertar mais o interesse do consumidor final, acentuaram o trabalho de comunicação nas redes sociais, mas também em algumas revistas de grande divulgação e impacto, com campanhas de descontos, passatempos e ofertas de amostras. «Tínhamos previsto o lançamento de um produto novo em março de 2020 e optamos por apresentá-lo digitalmente em outubro/novembro de 2020. O Estado de Emergência de 2021 tem tido, até hoje, efeitos ainda mais negativos do que em 2020. E com o mercado interno praticamente parado, estamos a estudar outras soluções», contou a responsável.
Marylène referiu que não solicitaram apoios em 2020 mas neste trimestre de 2021, a situação está a parecer mais grave em termos económicos. «Se 2020 não foi bom, temos o pressentimento que 2021 poderá não ser melhor em termos de resultados. Bem pelo contrário. Se não houver um apoio direto às pequenas e médias empresas, a situação poderá agravar-se. E isso reflete-se no comportamento atual do consumidor», acrescentou. A responsável destacou a necessidade de uma constante atenção e flexibilidade para realizar adaptações na gestão da marca e do conceito de negócio.
Também na área da beleza, a empresa Jorge Cabeleireiros afirmou que sentiu durante o ano passado muito medo, receio e apreensão. Lamentou que os apoios tenham sido «praticamente nulos». «Só mentiras por parte do Governo, quando se solicitam, é só burocracias, e desculpas para tudo», disse Jorge Machado.
O responsável evidenciou que as expectativas em relação ao futuro «são más», porque ainda não se sabe com o que se pode contar. «Estou muito apreensivo, receoso, sem os apoios, e a ter que se pagar impostos sem receitas. Vai ser muito mau», concluiu. De recordar que este ano o setor esteve encerrado de 15 de janeiro até dia 15 de março.

Comércio adota estratégias de sobrevivência no meio de restrições sucessivas


Na área do comércio e serviços, há setores mais afetados que outros. Os espaços de vestuário e calçado, por exemplo, foram fortemente penalizados, principalmente, devido às regras de isolamento social. Por outro lado, os negócios direcionados para a compra e venda de ouro têm vivido uma realidade distinta. No caso da empresa Valores, em declarações à Revista Minha, conta que também foi afetada pela pandemia e que foram obrigados a fechar muitos estabelecimentos por períodos longos e sucessivos.
No entanto, explicam que o negócio da venda de ouro, geralmente, é exponenciado pelos períodos de crise, tal como aconteceu 2008 e 2010. «Embora preferíssemos que a economia continuasse a crescer, também a crise que se avizinha provavelmente catapultará ainda mais o crescimento da nossa empresa», esclarecem.
Durante o período de confinamento as agências foram adaptadas para o atendimento ao postigo, mas as indicações e imposições governamentais foram evoluindo e todos os custos de adaptação foram quase infundados. «Podemos dizer que nos adaptamos a cada momento de acordo com as características de cada estabelecimento e de cada período. Assim e, neste sentido, as agências que dispunham de serviços financeiros, nomeadamente transferências de dinheiro, puderam continuar a laborar, em virtude dessa mesma exceção prevista na lei, contudo as outras lojas que não dispunham de serviços financeiros de momento tiveram mesmo que encerrar, sendo que uma boa parte delas encontrava-se em fase inicial de abertura e pelo qual significou grandes prejuízos indiretos nos investimentos previstos», afirmam.
O responsável J. Chester confessou que o sentimento geral sentido foi de preocupação e seriedade com as vidas humanas envolvidas, principalmente a questão da saúde. A empresa percebeu que em primeiro lugar deve prevalecer a saúde pública e que «a vida humana não tem preço». Salientou ainda que as decisões tomadas no Natal foram «lamentáveis» porque deixaram claro que a prioridade foi o sistema económico em detrimento da saúde pública. «Foi sem dúvida um grande retrocesso, com custos muito elevados tanto imediatos como futuros, para o país e a economia portuguesa, pois ao ser taxado de um dos piores do mundo, isso ficará gravado na mente das pessoas e afetará por exemplo o turismo e outras áreas ao longo dos próximos anos», lamentou. Adianta ainda que estão a desenvolver parcerias com empresas e empresários que queiram colocar uma espécie de corner (ou quiosque) dentro dos seus estabelecimentos e desenvolver «o nosso negócio em paralelo com os seus».
Na área do calçado, a empresa Boni Mores afirmou que «a pandemia mudou o mundo para sempre» e esta foi uma oportunidade para a concretização de ações que estavam no plano estratégico da empresa a médio e longo prazo, nomeadamente nas plataformas digitais. O responsável Daniel Silva explicou que os efeitos negativos sobrepuseram-se aos positivos e que as dificuldades prenderam-se na paralisação temporária das cadeias de abastecimento que levaram a atrasos na entrega de encomendas por parte dos fornecedores, o incremento dos custos dos materiais provocado pela subida dos preços das principais matérias-primas e o abrandamento do volume de vendas, motivado por cancelamentos de encomendas, uma vez decretado o encerramento generalizado do comércio considerado não essencial.
A empresa rapidamente percebeu que a estratégia passaria por uma reação imediata e uma necessária adaptação, «encontrando a força e motivação determinantes para superar esta situação». «Encaramos o momento como um desafio e não como um problema e isso ajudou-nos a seguir o nosso caminho. Aperfeiçoamos o nosso sítio na internet de forma a torná-lo mais rápido e apelativo, reforçamos a comunicação nas redes sociais, retomamos a realização de vídeos promocionais das nossas coleções, propagamos a utilização de catálogos digitais, entre outras. Todas estas medidas foram tomadas no sentido de alavancar a nossa comunicação junto dos nossos clientes e público em geral, passando a mensagem daquilo que é a nossa marca», explicou Daniel Silva.
A Boni Mores considera ter um «espírito de resiliência e superação» e que as expetativas são de conseguirem ultrapassar «esta fase com distinção». «Isto vai permitir-nos consolidar a nossa marca nos mercados em que estamos presentes para depois podermos dar continuidade ao crescimento que vínhamos apresentando antes da pandemia», acrescentou.

Pandemia trouxe exceções à regra


Com a pandemia Covid-19, muitos dos negócios tiveram de se reinventar e adotar novas formas de atendimento e prestação de serviços. Há vários exemplos de sucesso. A Doowtra, uma empresa dedicada à arte da madeira e que trabalha na indústria de mobiliário e carpintaria, afirmou que a quantidade de trabalho manteve-se apesar da situação pandémica.
A empresa dá conta que o primeiro confinamento foi o mais difícil porque não estavam preparados nem informados o suficiente. «Nas fases seguintes, adaptamo-nos e preparamo-nos para poder trabalhar de forma segura e, ainda assim, eficaz», evidenciaram. Alberto Fernandes explicou que o maior receio são as consequências da pandemia e que a procura possa diminuir. No entanto mantêm a esperança que «tudo vai correr bem».
No mesmo sentido a empresa CEO PEDRAS byannopei conseguiu em 2020 um «resultado estrondoso». Gabriel Oliveira referiu que a empresa teve de se reinventar, «voltou à estrada» e viajou pela Europa atrás de trabalho. Fruto dessa iniciativa, já têm em 2021 «bastantes obras executadas e adjudicadas em França e EUA». «Queremos continuar a crescer no mercado internacional mas queremos também consolidar a nossa presença como um dos principais players na indústria da pedra natural em Portugal. Queremos fazer crescer e cimentar a posição do nosso showroom enquanto plataforma de design de interiores e decoração. E queremos definitivamente divulgar a nossa loja online e as nossas linhas de decoração e de banho em pedra natural, as nossas Acquanatura Line e PIETRA di Casa», disse o responsável. A PEDRAS byannopei tem trabalhado com a porta fechada e atendido apenas sob marcação. Garantem as condições de segurança necessárias nas instalações e no atendimento aos clientes.

Eventos já estão a ser adiados para 2022


A área dos eventos sofreu um efeito devastador desde o início da pandemia. Casamentos, concertos, batizados, festas e todas as iniciativas que implicam aglomerações de pessoas ficaram sem alternativas para continuarem a trabalhar. A maioria dos eventos agendados por essas empresas foram remarcados para 2021. Com o cenário atual muitos clientes já estão a optar por realizarem em 2022.
Na Quinta da Praia Verde, durante o ano de 2020, 90% dos eventos foram cancelados e alguns reagendados. O responsável José Silva contou que o prejuízo é irreversível.
«Foram meses angustiantes e difíceis de gerir. Todos os dias as notícias eram avassaladoras, nada de mais esperançoso era garantido e à medida que o tempo avançava as incertezas eram ainda maiores», desabafou. José Silva explicou que durante os meses em que era permitido realizar eventos com restrições, a quinta implementou todas as regras de higiene e segurança e outras que acharam necessárias para a proteção de todos os envolvidos, tanto clientes como colaboradores.
Na Casa Gil o cenário foi muito idêntico. Martinha Noversa dá conta que os sucessivos encerramentos estão a fazer com que a empresa passe por dificuldades económicas. Para tentar contornar a situação a Casa Gil optou por vender comida para fora. Adiantam que as perspectivas não são boas, dado que os clientes já estão a adiar as festas para 2022.
A moda nupcial foi uma das áreas que acabou por ser muito afetada dado que não se realizaram casamentos. Este é um setor que não pôde seguir o exemplo de outras lojas que venderam online. Ângela Castro, da Berço das Noivas, explicou que «ninguém pretende comprar vestidos de noiva sem ver ao vivo e sem experimentar para sentir que é “o” vestido de noiva».
Dos três espaços comerciais que tinham abertos ao público, só um continua a atividade para reduzirem às despesas ficas. Os outros estão em layoff. A responsável salientou que a pandemia teve um impacto «avassalador» na moda nupcial. «O facto de não poder haver grandes concentrações de pessoas e por conseguinte a suspensão de cerimónias, nomeadamente dos casamentos, obrigou ao adiamento de inúmeros projetos de vida. Do ponto de vista do negócio sentimo-nos cilindrados com o impacto económico da pandemia e na busca de alternativas para mantermos o nosso negócio vivo», disse.
Ângela Castro acrescentou que só com a abertura dos casamentos será possível começar a reavivar a moda nupcial. Considera ainda que há alternativas para a realização de casamentos como a obrigatoriedade de apresentação de testes negativos dos convidados. «Isso traria dupla vantagem: por um lado seria possível realizar casamentos e dar continuidade aos projetos de vida suspensos pela pandemia e, por outro lado, haveria mais população a ser testada», concluiu.
Isabel Oliveira, da empresa Isabel Noivas, confessa que o futuro se vê sem grande esperança. Lamentou os apoios disponíveis e considerou-os «os mínimos dos mínimos». Mencionou que tentaram vender online o que há em stock mas «não foi fácil».
Alice Amaral, da Vallírios Flores, esclareceu que no meio de toda a situação, os clientes já se habituaram em fazer a marcação antecipadamente e, no espaço, cumprem sempre as normas de segurança. «Nós floristas tendo a lei a permitir-nos trabalhar, tivemos também que criar condições no espaço de trabalho, de acordo com as normas da DGS. Isso deu-nos segurança e também a transmitimos aos nossos clientes», disse. A florista confessou que o diálogo que tem com as flores a faz sentir otimista quanto ao futuro, que espera que seja «florido para todos».

Aposta no digital estabilizou mercado imobiliário


O setor imobiliário tem sido dos mais resilientes. Embora tenha registado impactos na oferta e procura, os preços dos imóveis mantiveram-se. Apesar de muita incerteza inicial e algumas quebras acentuadas de operações, o mercado imobiliário tranquilizou e mostrou alguma recuperação. A aposta no digital ajudou na estabilidade.
«Tentamos colmatar os problemas com um investimento no reforço de tecnologia. A partir do momento em que percebemos a realidade, começamos a contactar os nossos clientes, através de videoconferência, mensagens ou telefonemas, numa perspetiva de proximidade e estreitar relações. Numa fase posterior, após o confinamento, começamos a utilizar ferramentas tecnológicas que já detínhamos, mas que não eram muito utilizadas, no sentido de efetuarmos negócios. Utilizamos com maior intensidade as visitas virtuais. Desta forma, as pessoas poderiam conhecer os imóveis sem ter de deslocar-se fisicamente ao terreno», explica Carlos Pinheiro, da Remax Liberty. Para este agente imobiliário, a Covid-19 contribuiu, obviamente, para um «decréscimo no número de negócios ao longo destes meses, comparativamente aos anos anteriores», uma vez que «as pessoas não puderam deslocar-se, tanto internamente como do estrangeiro, levando a que não fosse possível realizar-se negócios». Mas para o responsável, o setor conseguiu, de alguma forma, estabilizar. «É obvio que este setor sofreu uma quebra, mas olhando para outras áreas, este mercado não foi tão afetado», assinala.
Carlos Pinheiro revela que a sua empresa aderiu, numa fase inicial, ao layoff e que, a partir de determinado momento começou a alcançar resultados positivos, devido, também, à competência de toda a sua equipa. «Foram incansáveis e conseguimos recuperar algum terreno. Neste período, aproveitamos, igualmente, para realizar algumas formações extraordinárias», conta.
As expetativas no futuro, garante, são animadoras. «Sentimos durante este último confinamento e, também, devido ao esforço que temos vindo a fazer em marketing tradicional e/ou digital, que os clientes continuam a procurar-nos. Obviamente, não têm sido concretizados tantos negócios como noutros tempos, mas face aos investimentos que temos feito em captação de novos clientes, tecnologia e formação, dá-nos uma perspetiva pós-pandemia muito positiva e de grande esperança para o futuro», confidencia.
Cátia Clemente, diretora de Agência Decisões e Soluções Braga Centro, decidiu, igualmente, apostar no digital, de forma a ultrapassar as dificuldades. «A maior dificuldade que sentimos foi a criação de ligação com os clientes, pois a insegurança estava presente no momento das visitas. Assim, o nosso foco foi o digital. Apostamos nas redes sociais, visitas virtuais, reportagem fotográfica dos imóveis e muita formação da equipa para que não desmotivasse. Reforçamos a aposta na área do crédito e seguros, áreas com potencial de crescimento, visto as famílias estarem com mais tempo e disponibilidade para renegociar os seus créditos e seguros com o intuito de poupança», acrescenta.
A responsável revela que não solicitou qualquer tipo de apoio e que a insegurança não implicou recessão no negócio. «A procura por moradias disparou, após o primeiro confinamento. As famílias, sobretudo com crianças, perceberam a importância de ter um espaço exterior para conviverem. Esta crescente procura provocou um disparo nas vendas e, no segundo semestre de 2020, batemos recordes de vendas a nível nacional na rede Decisões e Soluções», revela.
Cátia Clemente que, inclusive, que há muita confiança no futuro. «Vamos mudar de instalações em abril, reforçar a aposta na contratação de pessoas empreendedoras e criar condições para que todos possam trabalhar, seguindo as normas impostas. Existem muitas especulações sobre a “descida do preço” das casas, mas não acreditamos que vá acontecer, no futuro próximo, pois a procura continua superior à oferta e, portanto, estamos confiantes que o nosso serviço especializado vai-se distinguir no mercado, independentemente, dos ajustes que possam acontecer», termina.
Por seu turno, Manuel Galvão, da Imobiliária Munditroca, confidenciou-nos que «tem sido um ano atípico a todos os níveis e, que esta realidade, refletiu-se no volume de vendas», tendo tido a necessidade de aderir ao layoff. No entanto e, apesar da apatia generalizada, numa fase inicial, devido ao desconhecimento da própria problemática, conta que, após o primeiro confinamento tudo abrandou, mas a partir do 2.º semestre de 2020, com a implementação de uma nova forma de trabalhar, direcionada para o online, a agência começou a «colher frutos». «Intensificamos o marketing online e reforçamos a presença nas plataformas sociais do Facebook e instagram. O objetivo passava por estarmos mais próximo dos clientes. Começamos também a realizar visitas virtuais, vídeos, reduzindo ao máximo as visitas presencias», conta.
Manuel Galvão lembra que o setor imobiliário «é essencial» e acredita que a resiliência é a melhor forma de tornear as dificuldades. «O setor imobiliário já sofreu outrora estagnação e como estamos no mercado há muitos anos temos uma postura resiliente e esperançosa quando surgem problemáticas deste género. O nosso foco passa por lutar sempre, servir melhor, na perspetiva de ser sempre solução e obtermos, como resposta, bons resultados», conclui.

Restauração sobre(vive) no limbo


O setor da restauração foi, particularmente, muito afetado pela Covid-19, prejudicado sobretudo pelas medidas de segurança implementadas e pelo risco inerente da deslocação a espaços fechados. As quebras na faturação têm sido «dramáticas» e as dificuldades têm sido brutais. Em Braga, inclusive, cerca de 150 empresários da restauração, representando mais de 1300 trabalhadores, uniram-se, criando, inicialmente, a União de Restaurantes de Braga de Apoio ao COVID 19 (URBAC19), lançando um conjunto de medidas que consideravam ser fundamentais para salvar o setor. Mais tarde, foi criada a URMinho, com associados de toda a região.
Ouvido pela Revista Minha, Tiago Carvalho, representante da URMinho e proprietário dos espaços Tasca do Paiol e Kartilho, identifica os efeitos que a Covid-19 provocou nos seus negócios. «Houve uma quebra abrupta de faturação. A restauração tem estado extremamente limitada na sua função e temos os negócios encerrados por imposição governamental», assinala, antes de explicar como se adaptou à realidade. «No primeiro confinamento, surgiu em Braga um espírito de ajuda mútua entre os empresários da restauração. Foi importante para que toda a informação que ia surgindo fosse filtrada e transmitida de uma forma mais clara, ao nível dos “apoios”. Ficamos ligados e permitiu-nos passar este ano com alguma esperança, mesmo sabendo as dificuldades deste enorme desafio que passa por manter os nossos negócios, mesmo estando encerrados», assinala.
Tiago Carvalho revela-nos que teve «muitas vezes vontade de deixar tudo», sobretudo, devido à «injustiça» que, garante, o setor está a viver. «Somos gente de trabalho, não somos um sector subsídio-dependente, não temos apoios majorados na nossa abertura, partimos do zero, e com capitais próprios ou financiamento construímos os nossos negócios, empregamos famílias, pagamos uma elevada carga de impostos, somos provavelmente o sector mais escrutinado. Temos que pagar HACCP, seguros, passmusica, spa, contabilidade, sistema faturação e temos à nossa responsabilidade uma tremenda obrigação mensal que à maior parte das pessoas passa despercebida», explica.
E acrescenta. «A restauração em Braga tem um peso elevadíssimo na economia local. Somos e continuaremos a ser o cartão de visitas da nossa cidade e achamos que merecíamos outra forma de tratamento. Mas o caminho faz-se caminhando, é nesse intuito que temos estado a trabalhar para, no futuro, sermos respeitados e termos um objetivo comum. Isso dá-nos esperança e determinação», garante.
Segundo o empresário, no seu caso pessoal, teve que adaptar os seus negócios ao take away. «Muitos mudaram os seus menus, outros hibernaram, ficaram quietos, a poupar energias para que, quando for possível, possam retomar a atividade como sempre fizeram», esclarece.
Tiago Carvalho critica ainda os apoios do Estado. «Os que chegaram são muitas vezes uma anedota. O Apoiar deixa de fora 65 % das empresas da restauração, o Apoiar a Restauração faz o cálculo da quebra dos fins-de-semana no ano em que temos o pior ano de faturação, ao invés do período homólogo como deveria de ser. Depois, são planos de financiamento, ou seja, dívidas e moratórias. Por outro lado, o lay-off não pode ser visto como um apoio. Temos de ser coerentes e entender que fomos mandados encerrar daí que as nossas despesas têm de ser asseguradas por quem veio mandar nos nossos negócios. Não queremos ter lucros, mas não devíamos ter prejuízos, era o mínimo que se exigia, mas o governo entendeu e deixou claro que nesta crise apenas a TAP é para salvar», critica.
Para Tiago Carvalho, «a restauração vai ter danos graves, alguns deles irreversíveis, desde encerramentos, acumulação de dívidas e desânimo». «Teremos de lidar com uma enorme crise não só económica, mas também social. O desemprego está a aumentar e a classe média, uma vez mais, será fortemente castigada. A quebra na procura será gradual, precisamos de 4/5 anos para repor a nossa sustentabilidade financeira», vaticina.
Contudo, o empresário confia que, a curto médio prazo, tendo em conta todo o contexto, com a vacinação, o período de verão «será muito interessante para se trabalhar». «Acima de tudo sentimos uma confiança tremenda da parte dos nossos clientes. É muito gratificante este carinho que sentem por nós, o que demostra aquilo que temos feito durante anos, que é receber e servir bem aqueles que nos visitam», termina.
Ricardo Murta, proprietário do restaurante Taberna Portuguesa também vive dias difíceis. As consequências da pandemia têm sido «negativas» e «não tem sido fácil» lidar «com tantas dificuldades». «A faturação desceu drasticamente, mas as despesas mantêm-se. O número de funcionários é o mesmo e temos que lhes pagar os ordenados. E os alívios fiscais não existem. Tem sido um período muito complicado», sustenta. E o sentimento de revolta tem estado bem vincado. «Estamos no mercado, ajudamos o país economicamente, pagamos impostos e quando nos encontramos numa situação de grande dificuldade, não somos devidamente apoiados. Recorremos ao layoff e a empréstimos bancários. Infelizmente, muito dos apoios promovidos pelo Estado, esgotaram rapidamente, como aconteceu com o programa Apoiar. Quando nos candidatamos, já não havia verbas. E há burocracias a mais que dificultam o acesso aos mesmos. Lançam apoios, vêm para a comunicação social dizer que há uma oferta alargada de ajudas, mas, concretamente, não fomos apoiados e continuamos a ser prejudicados», acrescenta.
Para o empresário, foi necessário reajustar o seu modelo de negócio, mas, nem assim, «as coisas evoluíram muito». «No meu restaurante só trabalhávamos à hora do almoço, de segunda a sábado. Tive que implementar o trabalho noturno, com uma oferta gastronómica diferente, com a introdução de francesinhas. O objetivo passava por faturar um pouco mais. Com a limitação de circulação ao fim de semana e com a introdução das medidas restritivas, não pudemos trabalhar a partir das 13h00. Tivemos que reformular novamente a nossa metodologia e voltamos ao ponto de partida. Passamos a trabalhar com take away, mas em Braga, há muitos restaurantes a fazer o mesmo. As famílias não têm poder de compra, estão em casa, e as vendas são muito residuais. Para além disso, tivemos que fazer investimentos em produtos sanitários e ajustes nas salas. É que nem a bebida podemos vender com a refeição. É muito triste o que se está a passar com a restauração», lamenta.
Para Ricardo Murta, a curto prazo, «vai haver muita crise no setor». «Vão fechar muitos estabelecimentos e vai aumentar o desemprego. Espero estar enganado, não sou pessimista, mas iremos passar por um novo confinamento para setembro ou outubro. Por outro lado, considero também que restauração tem, no futuro, de caminhar noutro sentido. Estamos a trabalhar com preços muito esmagados e não conseguimos suportar mais quebras», assinala este empresário que detém ainda uma pastelaria. Se neste caso, «os primeiros meses até foram normais», o panorama alterou-se com «nova medida incompreensível». «Estávamos a trabalhar bem até ao momento em que “cortaram o cafezinho” e proibiram a venda de vários produtos. A partir daí, tivemos prejuízos elevadíssimos. Temos centenas de produtos dentro de portas com a validade a expirar, principalmente bebidas, e vai tudo para o lixo. Não podemos escoar esses artigos e sai-nos do bolso. Quem paga isso? Foi um tiro no pé que nos deram. E, dessa forma, começamos também a crise na padaria/pastelaria. Tive que dispensar funcionários, porque a faturação desceu muito. Basicamente, vendemos pão e bolos. E de uma forma muito reduzida», sustenta.
As mesmas dificuldades forma sentidas na padaria/pastelaria/pizzaria Maximinense, como nos contou Carlos Clemente. «A procura foi reduzida e consequentemente também reduzimos o horário de funcionamento. Tivemos quebras de faturação superiores a 50 %. Foi repentino e inesperado e a estrutura de custos não se ajusta tão rapidamente quanto a quebra de rendimento», assinala. De acordo com o proprietário, a força vem dos clientes, que continuam a reconhecer a qualidade dos seus produtos. «Neste período tão difícil para todos continuam-nos a procurar e a motivar para não deixarmos de inovar», diz.
Carlos Clemente conta-nos que «aderiu ao layoff» e foi forçado a ajustar «horários, serviços e equipas de trabalho». «Nunca paramos e fomos ajustando a oferta de acordo com a procura. Mantivemos o serviço de padaria sempre a 100 %, a oferta de pastelaria foi crescendo ao longo das semanas e de acordo com a procura, já no final do primeiro confinamento reabrimos o serviço de cozinha e pizzaria em takeaway. No Natal e Ano Novo, épocas muito fortes para nós tivemos que fazer escolhas e funcionou apenas o serviço de pastelaria para takeaway. Neste segundo confinamento não encerramos nenhum serviço, porque sentimos que os nossos clientes já tinham criado uma rotina de consumo de confinamento e por isso foi mais fácil a adaptação. Também apostamos em divulgação nas redes sociais», revela.
Os sentimentos de incerteza e impotência continuam a prevalecer, porque, segundo Carlos Clemente, «não tínhamos e não temos qualquer certeza sobre o futuro próximo». «Vamos acreditar que teremos um verão mais estável com condições para recebermos todas as famílias na nossa casa», finaliza.
O ano tem sido, igualmente, «muito negativo» para o restaurante Abadia D’Este. Apesar de ter recorrido ao layoff, ao incentivo à retoma progressiva e aos programas Apoiar e Apoiar Restauração, o espaço continua a viver dias difíceis. «Tivemos uma quebra de faturação de cerca de 80 %, com todas as consequências que daí advem», sustenta Helena Vieira. A resiliência tem sido a forma de lidar com as dificuldades, mas foi preciso também recorrer ao crédito e a capitais próprios. «Há muita frustração, desespero, abandono, mas sempre com vontade de não desistir, de não desonrar o legado construído pelos nossos pais (Sr. Vieira e D. Maria). Prescindimos, com muito pesar, de postos de trabalho; reduzimos os horários e efetuamos turnos rotativos; tentamos controlar os custos desativando salas e espaços, tudo sempre, sempre com o apoio dos nossos trabalhadores. O esforço foi, também, deles. Um obrigado a todos», refere, não entevendo um futuro positivo. «Vemos o futuro com muita, muita apreensão. Há muita incerteza, degradação económica e os apoios por parte do estado são insuficientes», lamenta.

Setor privado de saúde sofreu com adiamento de consultas e exames


O setor privado de saúde também sofreu uma retração da atividade, durante este último ano, associada, principalmente, ao adiamento de consultas e exames, derivadas do isolamento social e respetivos confinamentos. Manuel Azevedo Portela, podologista a administrador da PortelaClínica, revela-nos que, «depois de 2 anos da instalação deste projeto, ainda em fase de crescimento, expansão e de captação de novos utentes», sentiu «um forte impacto de uma crise que não estava prevista no plano estratégico da clínica». Foi necessário recorrer às moratórias e, simultaneamente, a uma linha de crédito Covid-19 «que permitiu garantir os postos de trabalho, honrar compromissos com colaboradores e fornecedores e manter os critérios de qualidade dos serviços médicos e clínicos». Através do programa ADAPTAR, garantiu a segurança dos seus profissionais e doentes, «nomeadamente com EPI´S, sem sobrecarregar os doentes com custos acrescidos nas consultas ou tratamentos». «Inicialmente, a atividade de medicina dentária foi suspensa pelo risco de contágio dada a proximidade entre médico e doente e as próprias técnicas usadas no tratamento destes doentes. A restrição de competições desportivas comprometeu a realização dos exames médico-desportivos e reduziu as necessidades dos nossos atletas na área da reabilitação fisiátrica e na preparação física», explica. Apesar de todas as condicionantes, diz, que a sustentabilidade da clínica «nunca esteve em causa». «A pandemia teve claramente efeitos nefastos na estratégia de crescimento da clínica, mas nunca colocou em causa a sua sustentabilidade e a assistência médica e clínica aos doentes em situações mais urgentes e com necessidades incapacitantes. Mesmo nas fases mais difíceis, com as consultas programadas adiadas, mantivemos a nossa responsabilidade ética e deontológica pelos nossos doentes e respondemos de forma responsável e segura», assegura.
O responsável garante que, mesmo em circunstâncias desfavoráveis, «todos os procedimentos, circuitos e metodologias foram revistos de forma a dar e transmitir segurança nos cuidados de saúde». «Para nós a saúde não é um negócio, é paixão, prazer, responsabilidade social e amor. Sentimos a necessidade de dar respostas aos nossos doentes e permitir que tenham cuidados de saúde essenciais em segurança. Para tal mantivemos os nossos serviços abertos com sentido de responsabilidade, contribuindo para descongestionar os serviços públicos de saúde», revela.
Tendo em conta a segurança dos utentes e dos colaboradores – a sua principal prioridade -, a clínica adotou um conjunto de comportamentos e metodologias capazes de manter os atos médicos em permanência, nomeadamente com proteções e barreiras, espaçamento entre consultas de forma a reforçar a higienização dos espaços, criação de diversas zonas de espera para evitar concentração de doentes, implementação dos EPI´S e realização de teleconsultas. «Implementamos planos de higienização e contingência, tivemos que nos reinventar e direcionar os nossos serviços de fisioterapia para as necessidades atuais de reabilitação física das complicações diretas e indiretas da Covid-19. Elaboramos ainda programas de acompanhamento psicológico, adaptados ao confinamento e às alterações comportamentais, e ainda realizamos consultas de nutrição pensadas na obesidade pós pandemia», assinala.
Manuel Azevedo Portela considera que os serviços de saúde devem ser mais abrangentes e de acesso facilitado, nomeadamente na comparticipação das consultas e dos tratamentos aos doentes mais fragilizados». «O doente deve ter liberdade de escolha do seu médico e dos seus cuidados de saúde sem que o fator económico impeça de ter acesso a determinados cuidados de saúde. Existe uma descriminação dos doentes com patologias dos pés, que não têm condições económicas para aceder a uma consulta de podololgia e vêm os seus pés serem amputados por não existir resposta capaz e suficiente. A saúde não é um negócio, é um direito e o setor privado deve fazer parte de uma solução principalmente nas situações em que o estado demonstra, claramente, ineficácia na resposta aos doentes. A PortelaClinica enquanto entidade privada de saúde entende que devem ser os doentes a serem subsidiados para os seus cuidados de saúde sem descriminação de quem os presta», assume.
A Revista Minha ouviu também a diretora clínica da MédicAmares, Marta Melo. A responsável assegura que «tem sido um ano atípico, com efeitos muito negativos a todos os níveis». «Tanto na nossa área concreta como em toda a sociedade, em geral. A incerteza e, principalmente, o medo são agora uma constante nas nossas vidas e penso que irão permanecer nos próximos tempos. A medicina dentária e a área de clínica em geral foram ambas prejudicadas», lamenta. E lança algumas críticas à forma como as entidades responsáveis geriram a situação. «Desde que foi decretado o primeiro Estado de Emergência e, consequentemente, obrigou ao encerramento das clínicas dentárias, que, na minha ótica, foi uma resolução indevida e desajustada. Tem sido difícil. Há muita incerteza, ansiedade e medo», refere.
Marta Melo confidencia que teve necessidade de recorrer ao layoff, na primeira fase, para ajudar a pagar os vencimentos dos funcionários e garantir a manutenção dos postos de trabalhos. «Este período deu para nos prepararmos com todos os cuidados e preocupações, fazermos as escolhas de materiais e equipamentos de proteção individual, de modo a dar resposta logo que houvesse ordem de reabertura. Na segunda fase, as medidas foram mais brandas, permitindo a abertura das clínicas dentárias e de medicina geral, mas as preocupações mantiveram-se. Estamos convictos de que estamos a cumprir tudo à risca, e a nossa premissa passa sempre por garantir a segurança e proteção dos nossos utentes», explica, acrescentando algumas medidas tomadas. «O uso de luvas, máscara cirúrgica, touca, uniforme de trabalho, óculos e calçado adequado, já faziam parte do nosso dia a dia. Todos os nossos equipamentos já eram rigorosamente higienizados entre pacientes, e todos os nossos materiais são descartáveis ou esterilizáveis em autoclave. As novas implementações passaram por aumentar o número de EPI’S, com o acréscimo de viseira, colocação de tapete desinfetante à entrada da clínica, bem como material descartável para os utentes usarem no interior desta. Outra medida foi a de evitar a aglomeração de pacientes na sala de espera, maior rigor nos horários das marcações e o questionário telefónico no dia anterior à consulta. O nosso maior investimento foi a compra de um aparelho de desinfeção do ar e de superfícies à base de um composto de cloreto de sódio e água, altamente estável e não tóxico, podendo estar a funcionar na presença dos doentes», revela.
A diretora clínica da MédicAmares considera ainda que tem sido um desafio inesperado e um ano imprevisível, e que «o futuro só poderá ser melhor». «Terá que ser mais risonho. A esperança faz parte da vida e queremos ver os nossos pacientes sorrir todos os dias», termina.
Por seu turno, para a Inove Saúde, empresa de software para Gestão de Cuidados de Saúde, que trabalha com lares e unidades de cuidados continuados, «foi um ano um pouco complicado». «Todo o orçamento existente acabou por ser usado nos EPIs. No entanto, também verificamos que foi em pleno contexto de pandemia que as direções destas instituições refletiram a importância de ter os seus processos informatizados. Por isso, apesar das quebras que tivemos, felizmente, também, tivemos sempre trabalho», explica Ricardo Rocha, CEO da empresa.
Para o responsável, a resiliência foi um dos pontos mais marcantes, juntamente com a adaptação à nova realidade do teletrabalho. «As viagens ficaram suspensas, pelo que passamos a apresentar os nossos produtos e serviços via online, tal como as formações às equipas técnicas também passaram a ser feitas através da plataforma Zoom», acrescenta. Ricardo Rocha acredita que o seu negócio irá colher dividendos no future. «Acreditamos que as instituições de Saúde e Apoio Social serão vistas com outros olhos e que a organização dos seus processos passe por uma plataforma intuitiva, que permita o acesso fácil e rápido. Será a solução mais viável», justifica.
Por outro lado, também a área das medicinas alternativas foi afetada. O Espaço Artes Orientais foi forçado, no início da pandemia, a fechar as portas. «Não me foi permitido trabalhar devido ao tamanho do espaço e por estar dentro de um Centro Comercial. A partir da segunda vaga tudo mudou», explica o responsável Rui Fontes.
Lidar «naturalmente» com a problemática foi a solução encontrada, porque, como diz, «não poderia ser de outra forma». «E sempre as restrições necessárias e evidenciando as regras de segurança», assinala. A prioridade sempre foi o bem-estar dos pacientes. «Os sentimentos foram sempre de compaixão pelo próximo, ajudando no que era possível para minimizar o sofrimento de cada paciente», lembra.
Apesar das dificuldades em ultrapassar este período, Rui Fontes mostra-se confiante nos próximos tempos. «As expectativas em relação ao futuro é de crescimento, com um sorriso no rosto e sempre pronto a ajudar quem precisar do meu auxílio, para minimizar o seu sofrimento», garante.

Ano «horrível» para o turismo


O turismo foi duramente atingido e sucumbiu aos efeitos da Covid-19. O isolamento social, os confinamentos e a impossibilidade de se viajar, promoveu na hotelaria uma elevada quebra de reservas e, consequentemente, nas receitas, e assistimos a uma grave desaceleração do mercado.
«Um ano horrível». É assim que o descreve Mário Paulo Pereira, presidente da administração dos Hotéis do Bom Jesus. «Tem sido um ano desastroso para todos os negócios, especialmente para o turismo, com principal pendor para a hotelaria, restauração e eventos. A nossa cadeia hoteleira como tem as três realidades, foi muito afetada negativamente levando a que, a mesma, tenha parado por completo todas as suas operações e atividades. O que fez com que, de facto, se tornasse o pior ano de sempre em termos de resultados e de investimentos a realizar», justifica.
O responsável assegura, contudo, que foi conseguido manter todos os funcionários até à data. «A empresa está a fazer um grande esforço para manter toda a estrutura. Nota-se que todos querem voltar a uma normalidade e poder contribuir para o relançamento das nossas operações e atividades», refere.
Mário Paulo Pereira revela que houve necessidade de efetuar avultados investimentos, nomeadamente, em máquinas de ozono, materiais de desinfeção e higienização reforçando e readaptando equipas à nova realidade», para que fossem criadas todas as condições de segurança aos clientes. «Temos vivido com grande ansiedade e absoluta incerteza. É o principal sentimento que nos assola», revela.
Para o responsável, os apoios disponíveis são insuficientes. «É necessário muito mais por parte das entidades governamentais na concessão e apoios diretos à retoma, a fundo perdido, de forma a que possamos abrir sem condicionantes económicas a acrescer às condicionantes de mercado com que nos vamos deparar. Sem injeções diretas nas empresas o gasto Estatal vai disparar em subsídios de desemprego, pelo que a chamada “bazuca” não deve ser desbaratada nas grandes obras de Estado», explica.
As expetativas a curto/médio prazo não são animadoras. «O país, a continuar neste ritmo, vai precisar de mais de um ano para debelar a pandemia, e a partir daí vai ter um longo caminho a percorrer para voltar à normalidade. E o nosso setor precisará de mais 2 a 3 anos para retomar em pleno as operações e atividades. No entanto sabemos que estes tempos difíceis também trazem oportunidades e estaremos atentos às mesmas pois temos um passado para honrar e um futuro a conquistar», esclarece.
A pandemia afetou, igualmente, de «forma brutal» o desempenho operacional das unidades Axis Hóteis & Golfe. Segundo o administrador da marca, Manuel Francisco de Miguel, «saídos de um exercício de 2019 em que se ultrapassaram todos os índices de exercícios anteriores e se suplantaram de forma expressiva os orçamentos de exploração, o ano de 2020, que até começou com excelentes indicações pois o desempenho de janeiro e fevereiro ultrapassaram em termos homólogos o exercício anterior, “despenhou” abruptamente a partir do mês de março, conduzindo ao inevitável fecho temporário das unidades».
Em bom rigor, diz, «o exercício de 2020 ficou reduzido a um semestre», devido, sobretudo, «a um verão dentro de alguma normalidade». «Inevitavelmente, e atendendo ao percurso dos últimos anos, 2020 tinha tudo para ser um ano em cheio, para o qual projetávamos inclusivamente a realização de novos investimentos. Foi aquilo que vulgarmente chamamos uma “pedrada no charco”, que nos obrigou a uma gestão absolutamente racionalizada e resiliente, com especial observância sobre o centro de custos por forma a ultrapassar este difícil período com as menores implicações na estrutura e salvaguardando os postos de trabalho de todos os nossos colaboradores», explica.
Manuel Francisco de Miguel revela-nos que hou necessidade de recorrer a vários apoios, nomeadamente, numa primeira fase ao layoff simplificado e, mais tarde, aos Incentivos de Apoio à Retoma Progressiva, instrumento que ainda hoje estão a utilizar.
As expetativas em relação ao futuro, «são de incerteza» e perspetiva que o processo de crescimento seja «lento». «É muito incerto no tempo dada a ainda falta de perspetiva relativamente ao final da pandemia ou à verificação da tal imunidade de grupo resultante do processo de vacinação. Depois, será necessário voltar a por tudo a funcionar e ganhar a confiança necessária para que as pessoas voltem a circular de forma franca e segura. A incerteza é ainda o mote do momento e as tendências observados durante esta crise provavelmente continuarão durante 2021 e possivelmente estender-se-ão a 2022. Prevemos um longo caminho de recuperação e, seguramente, nós, como todos, teremos a curto prazo uma especial atenção aos custos operacionais limitando, no imediato, quaisquer intenções de investimento», assinala.

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