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FIRMINO MARQUES: «A PROXIMIDADE FAZ-NOS MUITA FALTA, PORQUE É UMA DAS FACETAS QUE MAIS IDENTIFICA O NOSSO POVO»

Em entrevista à Revista Minha, Firmino Marques, presidente da Associação de Festas de São João de Braga (AFSJB), explica em que moldes as festividades vão, este ano, ao encontro dos bracarenses.

 

As festas de S. João não se realizam na sua plenitude, pelo segundo ano consecutivo. Sente-se desapontado? No plano objetivo, todos nós gostamos de festejar o S. João de Braga na sua plenitude. Estou habituado a celebrar esta festa, que é a mais popular e participada, entre todas as festividades populares a nível nacional. Lembro que no primeiro ano como presidente da AFSJB, passaram por cá, durante 11 dias, cerca de um milhão e 700 mil pessoas. É um registo, extraordinariamente importante, do ponto de vista da própria celebração, mas também a nível religioso, lúdico, económico e social. Por outro lado, do ponto de vista subjetivo, a realidade, neste momento, é esta. Estamos a enfrentar um problema que não é só local, regional ou nacional. A pandemia afetou-nos a todos, globalmente! Apesar de estarmos todos envolvidos na sua resolução, ainda não teve o seu término. Já em 2020, foi muito difícil não termos conseguido aplicar na prática um programa que durou meses a desenvolver. Deu muito trabalho, envolveu uma equipa enorme em todos os sentidos, com muitos voluntários e instituições que nos ajudam todos os anos, e a pandemia condicionou todo este esforço. O S. João de Braga é, há mais de 800 anos, uma festa que promove a nossa cultura e tradição, no que concerne às festividades populares realizadas em Portugal. O movimento associativo é também fortíssimo e é muito doloroso não podermos assinalar na sua plenitude todos estes costumes e todas estas memórias. Gostaria também de deixar uma palavra de apreço e agradecimento a todos os nossos parceiros, que apesar das dificuldades resultantes da pandemia, continuam a ajudar-nos a consolidar o S. João de Braga como uma das festas com mais tradição em Portugal.

Os festejos na rua, tão característicos das sanjoaninas bracarenses, não se podem realizar. É do que sente mais falta? A proximidade faz-nos muita falta, porque é uma das facetas que mais identifica o nosso povo. O cumprimento, o toque ou o trato é sui generis na nossa região. E saudar-nos pessoas que conhecemos ou não, faz parte do nosso ADN, da nossa cultura e das nossas tradições. Todas as ruas vêm dar a Braga no período das festas sanjoaninas. De toda a região, mas não só. Existem muitos turistas de vários pontos do país e, inclusive, do estrangeiro que procuram a cidade nesta altura do ano. Não foi por acaso que Braga foi considerado Destino Europeu em 2021 e as Festas de S. João, à semelhança de outros eventos que se realizam ao longo de todo o ano, tiveram, com certeza, uma marca importante para essa seleção. Esta animação, devoção e emoção são muito vividas durante o S. João de Braga e deixam-nos, obviamente, com muita saudade.

Este formato híbrido, designado para 2021, é um mal menor? Este formato é uma fusão entre atividades presenciais controladas, no sentido de impedir o ajuntamento de pessoas e ações que vão ser transmitidas em versão digital. Não é um mal menor. É o S. João de 2021 que a história se encarregará de registar. Apesar de todas as adversidades e dificuldades, o S. João de Braga continua a estar no nosso coração e na nossa forma de celebrar a vida. E é importante que o façamos com responsabilidade!

Em 2020 optaram pelo formato digital. Tiveram boa aceitação do público? Foi um sucesso tremendo. Tivemos dos quatro cantos do mundo mensagens de pessoas que recordaram momentos vividos noutras épocas. Com este formato levamos o S. de Braga por esse mundo fora. E, em futuras edições, mesmo com o S. João a decorrer normalmente, é uma configuração que iremos ter em conta, para que as pessoas que gostam das festas e não podem estar cá, possam viver estes momentos e que possam ter o coração centrado na nossa cidade, na nossa região e no nosso país. É uma responsabilidade que assumimos e que iremos continuar a desenvolver. Manter a transmissão nas redes sociais é uma excelente opção para manter a ligação com as nossas comunidades.

Este ano, a versão digital acontecerá nos mesmo moldes? Será ainda melhor do que aquilo que foi projetado para 2020. A dinâmica de comunicação será um pouco diferente, entre a realização e apresentação das ações. O objetivo passa por transmitir a realidade dos momentos com mais clareza e proximidade. E haverá, obviamente, maior interesse para quem está ou pretende assistir via online.

Considerou em determinada altura, que o formato digital «honrou não só as tradições, mas também o movimento associativo local que generosamente se associou a este paradigma». Como é que os artistas e todos os envolvidos nas festas reagiram a este novo padrão? Com muita responsabilidade. Todos amam aquilo que fazem e, naturalmente, gostariam de atuar e apresentar a nossa cultura de forma presencial. Ao vivo, as atuações têm outra dinâmica e resultam muito melhor, porque há proximidade e mais interação. Mas compreendem a realidade, são os primeiros e colaborar e ajudaram-nos a construir todo o programa que será ainda mais enriquecido, devido à experiência vivida em 2020. Com esta disponibilidade, estão a defender a sustentabilidade do seu trabalho no presente e no futuro. Enquanto organização, registamos esta postura com enorme satisfação e agradecimento.

Quais as ações e novidades que destaca para este ano? Começo por referir duas ações que vão realizar-se no Theatro Circo. Primeiro a quinta edição da Gala Sanjoanina, que contará com a participação de Ana Bacalhau. Este evento tem uma perspetiva solidária, cujo valor angariado com a venda de ingressos reverterá a favor do fundo social constituído pela Associação de Festas de São João de Braga (AFSJB). E tem como objetivo homenagear e reconhecer o trabalho desenvolvido por entidades, figuras e associações ligadas ao São João de Braga, que têm contribuído para o reconhecimento das festividades. Depois, destaco também o espetáculo Banquete de David, promovido pelo Circuito – Serviço Educativo Braga Media Arts, um original e de criação colaborativa, que se propõe a unir o universo das Media Arts à tradição popular das Festas de São João de Braga. O projeto é iniciado através da gravação de polifonias minhotas, em torno da figura de São João, e contará com a participação do nosso movimento associativo etnográfico. Antevejo um espetáculo presencial muito interessante, único e que perdurará nas nossas memórias. Destaco ainda a realização do I Congresso Sanjoanino, onde será efetuada a promoção das diferentes realidades vividas em diferentes regiões, onde o S. João é celebrado e vivenciado. Neste âmbito, será lançado um documento para materializar a organização desta ação que ficará na história do S. João de Braga. Podemos abrir a venda ambulante próxima à capela S. João da Ponte, sempre condicionada e muito circunscrita ao espaço e ao tipo de produtos, de forma a evitar ajuntamentos e o próprio toque nos artigos. Esta ação, hoje está prevista, mas daqui a uns dias, poderá ser cancelada. Está sempre dependente do momento, tendo em conta a realidade da pandemia. Algumas iniciativas contempladas para o Fórum Braga podem também vir a ser transferidas para um local do exterior, designado de Ponto Sanjoanino, cuja entrada e respetiva participação presencial estará sempre limitada, para evitar possíveis ajuntamentos. Será o encontro possível com aqueles que gostam das festas de S. João de Braga. O plano religioso continua, obviamente, a fazer parte do programa, com a realização das novenas e as missas que irão decorrer de forma regular, adaptadas ao momento e com todo o respeito por parte dos presentes. Neste âmbito, estão previstas ainda as celebrações na igreja de S. João do Souto, na Sé de Braga e na capela de S. João da Ponte, para além da Eucaristia em memória dos membros falecidos das Comissões de Festas e de ação de graças pelos atuais membros da Associação de Festas de São João, na Igreja de S. Lázaro.

Que mensagem quer deixar aos bracarenses e a todos aqueles que visitam a cidade nesta altura do ano? O que eu desejava era poder convidar toda a gente a visitar a cidade durante este período. Atendendo às condicionantes, sobretudo com o coração, não deixem de estar em Braga e de se associarem às festividades.

Qual o seu maior desejo neste momento, enquanto presidente da Associação de Festas de São João de Braga? Que a edição deste ano das festas de S. João decorra dentro daquilo que planeamos e que o futuro seja visto com esperança. Acredito, sinceramente, que 2022 será um ano inesquecível das festividades do S. João de Braga. Que a proximidade e o sorriso possam ser manifestados de forma natural, sem restrições ou condicionantes. Que possamos receber de forma calorosa todos aqueles que nos visitam e que ficam apaixonadas pela nossa cidade. Se já passamos edições sanjoaninas extraordinárias, estou convicto que o próximo ano será memorável, até pela saudade que existe entre todos nós, de voltarmos a estar juntos e comemorarmos as Festas de S. João em todo o seu esplendor!

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