Opinião

Prespetiva Zero – (IN)TOLERÂNCIA

Integrada na Licenciatura em Ciências da Comunicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da UCP -Braga, a disciplina de Fotojornalismo, a meu cargo desde 2010, tem procurado dar expressão pública aos trabalhos realizados no 2º ano do curso. Procuramos treinar o olhar e ativar a curiosidade dos estudantes, convocando-os a construir pequenas peças jornalísticas ilustradas com fotografias da sua autoria. Este ano, pela primeira vez, estamos consigo, na MINHA. Terminado o semestre, tivemos o simpático convite para…CONTINUAR! E cá estamos, agora chamando mais voluntários, mais gente gira, como a Mariana Tavares, Mariana Lopes, Bárbara Lima e a Francisca Gomes, alunas finalistas, para além do Ricardo Faria Ferreira e da Joana Rebelo, do 1º ano, e Rafael Henriques, aluno de Intercâmbio “Erasmus”, que acompanham os residentes, Inês Neves e Diogo Ribeiro. Estamos muito felizes com esta oportunidade e esperamos que gostem. Agradecendo a coragem de quem tão bem nos acolhe, somos CC. Assumimos o projeto Perspetiva ZERO – porque estamos a começar.

Luisa Magalhães,

Professora auxiliar

Ricardo Faria Ferreira

Nós nunca sonhamos em ser aquilo que realmente somos. O que queremos é ter uma vida normal, ter uma vida que nos deixe felizes e sem preocupações, mas será que com isto podemos dizer que nos sentimos realizados?

Aquilo que procuramos dentro de nós desde que sabemos o que é pensar, a nossa vocação, traz ao de cima muita dúvida e muita dedicação, até mesmo quando acreditamos ter encontrado a solução para este dilema, existe sempre outra voz que nos puxa para o caminho mais seguro, para o caminho de menor dificuldade. É normal, ninguém nos pede para poder conseguir aguentar toda esta força e carga mental dentro de nós. É perfeitamente aceitável que muitos de nós apenas queiram normalidade, mas será esta a forma de nos mostrarmos ao mundo? A resposta para esta questão na minha perspetiva é não, nós temos de arranjar forças e certezas intrínsecas do nosso ser, temos de mostrar a nossa fibra, a tolerância que vive quotidianamente em sintonia com o nosso suspiro. Haverá uma certa altura em que tudo vos irá parecer que corre mal, que foi uma escolha errada e irão questionar todos os passos que deram, e assim morrem sonhos e felicidade. Temos que nos lembrar e induzir que tudo precisa de trabalho, dedicação e força de vontade para podermos, dentro deste mundo, mostrar aquele brilho que só nós temos, que só nós conhecemos desde o nosso primeiro batimento cardíaco. A esta nascença atribuo a todos aqueles que tiveram a tolerância de cá continuar, de não desistir quando tudo parece errado. Estes são aqueles capazes de grandes coisas, são os heróis entre nós.

Com isto, vou partilhar uma memória, um exemplo de tolerância. Imagine-se um Sábado, acordar às 4 da manhã, sem dormir, que realmente não é bem acordar, mas começar a sentir, partir para a serra, sem saber se podemos lá chegar e por onde conseguir. Com mapas e imagens de satélite, ao fim de 3 horas, este pequeno grupo finalmente consegue chegar onde quer. Neste grupo estão presentes fanáticos por corrida, fotógrafos de várias grandes agências e eu. A prova? Rally de Portugal 2021. A batalha que tenho para poder exercer a minha paixão seja por ver os carros ou por fotografá-los, requer uma tolerância enorme e um esforço diferente, ano após ano, prova após prova, esta é apenas uma de muitas das quais já lutei para participar e sentir. Não há sensação melhor do que chegar ao céu depois de uma grande batalha. Apesar de chegar a casa sem sentir os joelhos, amanhã de madrugada já estou na gravilha outra vez.

page83image47622512

 

Inês Neves

Desde que comecei a ganhar as noções básicas da categoria onde me encontro inserida que me questiono incessantemente da derradeira falta de noção do nome a nós, humanos, atribuído. De acordo com o dicionário que tenho cá em casa o sentido figurado da palavra humanidade remonta para um sentimento benévolo e solidário em relação aos outros, sendo que as palavras relacionadas são benevolência, bondade e compaixão, e nisto eu me questiono, onde é que natureza humana se identifica nestes conceitos?

Pedofilia, violação, violência, homicídio, guerra, confronto e morte, confio que sejam as palavras mais mencionadas aquando das notícias de Portugal e do mundo, pelas mais variadas razões, das mais variadas maneiras e com uma diversidade devastadora de pessoas, parece que estes termos não olham a etnias, religiões, géneros ou idades. Raros são os momentos em que não há sentimentos negativos em redor dos humanos, em que há confrontos por bens materiais ou por riquezas, em que o sentimento de posse ou superioridade não vence o de respeito ou tolerância. Pensar que há países em que a homossexualidade é ilegal, em que ocorrem apedrejamentos em praça pública, que há guerras iniciadas pelos mais diversos géneros de intolerância… Eu nunca tive muita fé na nossa espécie e, para além de que cada vez mais me parece que a minha falta de fé era fundamentada, este sentimento não é recente e não é unicamente meu:

“O homem inventou a bomba atómica, mas nenhum rato no mundo construiria uma ratoeira” (Albert Einstein)
Contudo, quero acreditar para o bem de gerações futuras que a humanidade encontrará um caminho para os corações de todos, que a paz triunfará sobre as guerras, o orgulho sobre a inveja e a aceitação sobre as inseguranças, ou isso, ou a vida na Terra tal como a conhecemos terá o seu fim, não o fim do planeta, mas o nosso.

A todos os que poderão estar a ler isto peço que procurem a humanidade que se encontra adormecida no seio do vosso coração e a despertem e com ela tentem igualmente despertar a dos que estão à vossa volta. A humanidade da humanidade precisa de nós e só nós temos o poder para a ajudar.

page84image47889648

 

Joana Rebelo

Tolerância. Tolerância é inclusão, respeito, liberdade, empatia e compreensão. É o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Bem… sorte a nossa que vivemos num mundo tolerante. Sem esforço, recordo episódios de tolerância que marcaram as minhas convicções. Ocorre-me, em primeiro lugar, o caso de George Floyd. De 46 anos, o afroamericano vivia em Minneapolis, nos Estados Unidos. Antes do fatídico dia 25 de maio de 2020, Floyd era apenas um pai em busca de melhores oportunidades de vida e um ativista que lutava contra a violência, até que chegou o dia da sua sentença. Tudo aconteceu após um estabelecimento acionar a polícia, alegando que George Floyd tinha tentado usar dinheiro falso. Ao chegar ao local, quatro polícias identificaram-no e ordenaram que saísse do veículo, imobilizando-o no chão. O afro-americano passou os seus últimos minutos de vida implorando, enquanto era sufocado por um polícia, suplicando, vezes sem conta, “I can’t breath”, “please, please”. Este acontecimento foi gravado por diversos civis e as imagens ficaram gravadas na história dos Estados Unidos. O motivo que culminou este acontecimento parece óbvio: a tolerância. A tolerância no seu auge. Recentemente, a Terra Santa tem sido condenada à inaceitável morte de crianças no conflito entre Israel e Palestina. Nestes últimos dias têm aumentado os confrontos armados entre a Faixa de Gaza e Israel, deixando um rasto de mortes de civis inocentes. Crianças sem pais, perdidas ou mesmo assassinadas têm marcado a primeira página de vários jornais em todo o mundo. A poeira, o cheiro de sangue e morte encheram o local onde as crianças brincavam, graças ao ódio e à sede de vingança que se vem transmitindo de geração em geração. O motivo que culminou este acontecimento parece também óbvio: a tolerância. A tolerância no seu auge. Esta espiral de violência é o retrato de um mundo desenvolvido, tolerante, pacífico e seguro. Na verdade, vivemos no apogeu da tolerância, os episódios do holocausto nunca mais se poderão repetir, e nem se põe em questão uma 3a Guerra Mundial…, portanto, não há motivos de alarmismo nem de preocupação.

Mariana Tavares

A tolerância possibilita a coexistência pacífica entre a humanidade. É o suporte de uma sociedade justa, na qual todos podem viver em liberdade. Acredito que seja um componente essencial na união social e uma cura para o preconceito. A falta de tolerância é o resultado do medo e da ignorância em relação ao desconhecido. Ser capaz de se colocar no lugar de outra pessoa é o fundamento deste termo. Um indivíduo tolerante valoriza a independência e a liberdade de escolha de toda a sociedade, sendo sensível aos pensamentos, sentimentos e as experiências dos outros.

O caminho para o progresso humano está interligado nesta virtude e na compreensão. Um caminho longo e difícil, que começa com verdades inconvenientes sobre nós mesmos e a nossa sociedade. Mas é o caminho justo para a evolução da condição humana. A intolerância conduz para um rumo de destruição e injustiça, que coloca todas as vidas em risco.

A tolerância é a melhor barreira contra o populismo de forma a manter uma coexistência pacífica, quer essa aceitação mútua seja de fenómeno religioso, político ou social.

Deixar comentário