Opinião

Ponto e vírgula

Recordo-me, dos tempos de faculdade, quando fui desafiada a criar um alfabeto inspirado em objetos do quotidiano.
Era capaz de ver letras em todo o lado, mas o real desafio foi encontrar um fio condutor.

Desenhar um alfabeto partindo de um conceito aglutinador, na incerteza de não saber se iria encontrar as letras todas, não foi fácil, mas foi possível; e acabou por resultar em algo brilhante.

O meu fascínio por abecedários continua, mas sob um ponto de vista diferente.
Hoje, o meu foco está em juntar o “ABC” do que seria um bom mentor para mim.

E o que é um bom mentor? Depende, diria uma alma sábia.
Pela definição, sabemos que é uma pessoa que, pela sua sabedoria ou experiência, ajuda outra como guia ou conselheiro. Também é aquela pessoa que inspira outras.

Já na definição dos Toastmasters, a visão de guia mantém-se e dá um grande foco ao mentorado: os seus objetivos a longo prazo; o suporte que precisa para atingir as suas metas; o feedback e suporte sem julgamentos; o envolvimento pessoal em justa medida; os seus passos e o seu ritmo.

Ser membro de um clube é querer receber ajuda para melhorar competências de comunicação e liderança.

Significa também contar com um mentor durante essa caminhada.
Tenho o privilégio de aprender com o meu mentor e a honra de partilhar as minhas experiências com os meus mentorados.

Mas se há algo que tenho observado dentro e fora dos Toastmasters é que existem tantos mentores quantas as experiências que decidimos espremer e absorver. Alguém pode tornar-se no teu mentor:

Porque te ouviu, apenas e só, para poderes agarrar essa decisão que era só tua;
Porque partilhou uma experiência traumática contigo para entenderes que é possível sair dela;

Porque te desafiou a entrar em competições de discursos e descobriste um talento por explorar;
Porque agiu de uma forma que não tens interesse em replicar;

Porque te disse um “para, escuta, olha”, e era tudo o que precisavas de ouvir para avançar;
Porque procura o teu sentido crítico antes de enviar aquela apresentação;

Porque te lançou para a boca de cena e já não queres outra coisa;
Porque confiou em ti quando te propôs uma função de liderança ou um projeto aliciante;

Porque te obrigou a olhar para o espelho como nunca antes o tinhas feito;
Porque valorizou aquele teu gesto inspirador;
Porque te mostrou que por trás de um mau feitio se esconde um coração derretido;

Porque faz as perguntas certas e anda pela vida sem se aferrar a nada;
Porque te entendeu num momento de confusão e te deixou à vontade, mas não à vontadinha.

Steve Jobs dizia, com razão, que os pontos só se podem conectar olhando para trás.
Se nos meus “doces dezoito” eu procurava letras em qualquer recanto, hoje eu encontro mentores e experiências em tudo o que é canto.

Não só encontro, como também lanço e conecto; em jeito de letras, pontos e vírgulas que dão forma a uma caminhada sem um sistema de posicionamento global incorporado.

Patrícia Fernandes

Product Marketing Strategist
& Membro do Braga Toastmasters

Deixar comentário