Roteiros

Roteiros pelo Património (Monção)

As cidades têm por tradição vestirem-se de luzes durante o mês de dezembro para celebrarem condignamente o Natal e o Ano Novo. As ruas enchem-se de anjos, árvores de Natal, renas, azevinhos e outros símbolos natalícios em forma de luzes que, com a música ambiente, transportam as pessoas para uma magia que só acontece nesta época do ano. Roteiros pelo Património (Monção) TXT José Carlos Ferreira património Cada cidade prima por apresentar o seu melhor, mas, no Alto Minho, esta magia parece que é ainda mais mágica e mais luminosa. Não sei se é para tentar rivalizar ou ombrear com os nossos irmãos galegos, a verdade é que ali nas nossas vilas e cidade de fronteira a animação natalícia assume contornos diferentes, onde, para além das luzes, as ruas cheiram a chocolate quente ou a churros. Mas, para onde vos quero levar cheira e sabe a muito mais… cheira e sabe a tanta coisa boa que é fruto de saberes acumulados ao longo de muitos séculos. Chegar à vila de Monção não é nada difícil. Difícil mesmo é escolher como lá chegar. Os mais apressados dirão que vão pela A3 até Valença, seguindo depois pela estrada nacional. Os mais pacientes dirão que vão pela antiga estrada nacional que passa pelos Arcos de Valdevez, com uma paisagem de apreciar ao longo de todo o trajeto, cheio de património que ficará para uma próxima vez. Agora, o objetivo é mesmo chegar a Monção, para descobrir esta vila raiana, cujas origens se perdem na bruma da memória. Dizem os arqueólogos que o primeiro povoado terá sido um castro da Idade do Ferro, aproveitando esta localização geoestratégica. E para percebermos isso, basta deixar o carro na Praça Deu-la-Deu, que evoca a heroína monçanense, e dirigirem-se para os lados do café Mira Espanha e, naquele “varandim” sobre o rio Minho, apreciarem como nada nasce por acaso. Quem escolheu este sítio para viver, sabia que este era o local seguro e importante para se sentir protegido. E, já que estamos aqui, vamos até aos passadiços que a Câmara de Monção construiu recentemente e que nos permitem ter uma visita, não só histórica, como também ambiental. Aqui, passeamos no tempo. Se vos disse que as origens de Monção podem estar num povoado da Idade do Ferro, nesta parte das muralhas de Monção que podemos apreciar a partir dos passadiços podemos recuar até à Idade Média. Neste pano de muralha virado para o rio Minho estamos perante o momento da história em que o nosso rei D. Dinis decidiu reformar o castelo de Monção para o tornar mais eficaz perante a ameaça do inimigo de então, os nossos atuais irmãos espanhóis. É este castelo medieval que, segundo conta a lenda de forte exaltação nacional, foi cercado pelos espanhóis na época das Guerras Fernandina. O Governador da região foi combater, com as suas tropas, pelo rei D. Fernando deixando desprovido a maior parte dos castelos da raia, sendo um deles o de Monção. Assim, os castelhanos cercaram o castelo de Monção vários meses, ao ponto de começar a faltar a comida tanto dentro da fortificação como junto das tropas espanholas. Perante isto, a mulher do alcaide, Deu-la-Deu Martins mandou reunir as mulheres para fazerem todo o pão possível com a pouca farinha que ainda havia dentro das muralhas. Com o pão cozido, Deu-la-Deu Martins lançou-o aos castelhanos dizendo: Deus o Deu, Deus o há dado! Com isso, a nossa heroína terá iludido os castelhanos que havia fartura dentro de muralhas, o que terá levado a abandonar o cerco. Na verdade, quem visita Monção nunca, mas nunca, passa fome, não fosse o facto desta vila ter conquistada dois troféus das 7 Maravilhas da Gastronomia portuguesa. Já que aqui estamos, não deixemos de provar o famoso cordeiro à moda de Monção e, para sobremesa, as roscas de Monção… sem esquecer o famoso Alvarinho.

Deixar comentário