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Opinião

Que entusiasmação!

Não precisamos de explicar a uma criança como sonhar, ela fá-lo naturalmente, porque é capaz de assimilar com plenitude e simplicidade tudo o que a rodeia. Mas, quando adultos, quase sempre precisamos de um empurrãozinho para nos lembrarmos de que, por muito ocupados que andemos e a vida nos faça tropeçar, somos ainda capazes de sonhar e de ser felizes. Nesse processo, precisamos de estar atentos, porque, não raras vezes, a felicidade materializa-se simplesmente numa pessoa que surge na nossa vida, num livro qualquer que lemos, numa música nova que ouvimos… ou num todo ao mesmo tempo: numa pessoa nova que nos traz um livro inédito com uma melodia nunca antes ouvida.

Ler “Que Entusiasmação!”, de Juliana Gomes, é como abraçar uma lufada de ar fresco. É relembrar a capacidade de sonhar. De ser criança. De acreditar. De ir além do visível e dizível.  

Tudo isto numa breve história que nos fala da importância de nunca desistirmos dos nossos sonhos, enquanto levemente nos ensina a olharmos bem para dentro de nós, a percebermos o que realmente nos move e a conseguirmos correr atrás dessa essência. Uma história que nos fala de viver com tal intensidade “como se o sol nascesse ao mesmo tempo que uma chuva agreste do Inverno se faz sentir”.

Chama-se Dédé, a personagem principal desta história, e é apenas uma criança com o sonho de ser cantora. Para ela, a música é “como se fosse o ar que respir[a] e tudo aquilo que [a] move”. Mas a Dédé tem um medo: não consegue cantar em público. E ultrapassar esse medo será o seu maior desafio ao longo das páginas de “Que Entusiasmação!”.

Facilmente perceberão que esta história fala de coragem. Fala de conseguirmos superar os nossos medos. Aqueles que nos impedem de sermos realmente felizes. Quantas vezes o medo de ser mais, de ser diferente, de arriscar… nos bloqueia os pensamentos e tolhe os movimentos? Quantas vezes não acreditamos no nosso potencial por medo de sermos criticados ou julgados? Mas há momentos-chave na nossa vida que nos mudam para sempre conforme a nossa atitude perante eles. A maior parte desses momentos reside na nossa infância, quando quebramos as primeiras barreiras, ou seja, quando nos deparamos pela primeira vez com um medo e somos capazes de o superar. A partir daí, tornamo-nos destemidos, sonhadores e verdadeiros guerreiros. É por isso que este livro é dedicado às crianças e é tão importante. Porque os livros ainda são o botão “desencadeador” dos maiores sonhos e dos pensamentos mais audazes, seja em que idade for. 

Ao ler este livro, a cada página que folheamos, é como se sentíssemos uma nuvem de confetti atingir-nos, é como se mergulhássemos num mar de guloseimas, de tão colorida, doce, acolhedora e revigorante que é esta história, bem ao jeito da sua autora e carinhosamente alimentada por umas belíssimas ilustrações de Marlene Lima. Com um pouco mais de atenção, acreditem: é até possível ouvir uma linda melodia sair das suas páginas. Assim, ao mesmo tempo que nos deixamos inebriar por uma escrita fluida e criativa, acompanhada de uma chuva de cores, há uma grande lição que retemos e que irá ajudar as crianças (e não só), com grandes sonhos e ambições, a perceberem que se tiverem confiança em si mesmas serão capazes de tudo. 

Nunca este livro poderia ficar guardado numa gaveta, longe dos olhares e corações do mundo, porque, tal como a Dédé, todos “temos de fazer voar as coisas belas que somos capazes de criar para comunicarmos com os outros. Quando isso acontece é sinal de que conseguimos partilhar o melhor de nós mesmos e o universo agradece em duplicado”.

Destinado ao público infantil, este é também um livro para ser lido por adultos. Mas deixo o aviso: só há um tipo de pessoa capaz de ler um livro assim – alguém que nunca deixou de sonhar nem de acreditar. 

Alguém que consegue olhar o mundo com olhos de “Entusiasmação”.

 

Ana Monteiro,
Agente Literária

 

 

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