© Greve Climática Braga
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Greve Climática Braga: a luta dos jovens de espírito verde

As discussões sobre as mudanças climáticas não são novidade, mas sabemos que nos últimos anos este tema tem estado na boca de todos. A luta climática é hoje um fenómeno global que envolve toda uma geração de jovens unidos por uma mesma causa, a de salvar o planeta. Em agosto de 2018 nasceu o movimento Fridays for Future (FFF), conhecido em Portugal como Greve Escolar pelo Clima, uma iniciativa liderada por Greta Thunberg, uma jovem ativista sueca que, com apenas 15 anos, fez um apelo aos jovens estudantes de todo o mundo para se manifestarem com o objetivo de chamar a atenção para a falta de interesse dos políticos a nível mundial no que diz respeito à proteção do clima.

A estratégia de protesto adotada pela jovem ativista foi simplesmente a de faltar todas as sextas-feiras às aulas para sair à rua e participar na luta contra as alterações climáticas. O pedido foi imediatamente acatado por jovens de todos os cantos do mundo e tornou-se rapidamente alvo de opiniões muito diversas. O fenómeno Greta espalhou-se por mais de 100 países. “Em Portugal começou em Lisboa e Coimbra, foram os primeiros dois núcleos que tiveram interesse e se juntaram ao movimento Fridays for Future, que é internacional”, comenta Luís Cruz, estudante do terceiro ano de Ciências Políticas na Universidade do Minho e um dos organizadores do grupo Greve Climática Braga. Acrescenta ainda que em Braga o movimento surgiu a partir do apelo do grupo nacional Greve Climática Estudantil: todos os que quisessem juntar-se à causa deveriam começar a criar núcleos nas suas próprias cidades. 

Além da greve, as iniciativas do grupo focam-se na realização de palestras dirigidas principalmente às escolas do ensino secundário. “Na verdade, é das escolas secundárias que provém a nossa maior fonte de pessoas que participam na greve e que estão a atuar”, afirma Luís, acrescentando que a finalidade das palestras é simplesmente “dar mais informações acerca do que é a greve e explicar qual é o problema que se está a tratar”. À medida que as pessoas vão adquirindo conhecimento sobre a causa climática, o interesse em participar na manifestação torna-se cada vez maior. 

Para além da greve, o grupo Greve Climática Braga organiza oficinas de cartazes e reuniões durante a semana, onde tentam formar consciências e “chamar as pessoas que têm mais interesse para participar ativamente na organização da greve e também nas palestras”, exemplifica Luís. As atividades do grupo têm a intenção de criar interação com as pessoas, mas ninguém é obrigado a participar. As redes sociais também têm tido um papel muito importante, já que é através delas que grande parte dos interessados contacta com os organizadores para aderir ao movimento.

Em linhas gerais, o movimento da Greve Climática Braga tem sido bem acolhido pela população bracarense. Luís acredita que o movimento tem sido bem recebido pela comunidade pelo facto de já haver interesse a nível nacional pela causa e pela maioria das pessoas considerar as questões relacionadas com o clima problemas muito reais e urgentes. Mas nem toda a gente apoia o movimento.

A geração clima, como são conhecidos os principais participantes ativos das manifestações e greves climáticas que têm sido convocadas até agora, só pretende “consciencializar e fomentar ação real”, acrescenta Luís Cruz, que diz ser inútil os cientistas dizerem que restam dez anos ou menos para o fenómeno climático ser combatido, se depois não são tomadas medidas reais. “As consequências que podem advir daí são mesmo reais e perturbadoras e o nosso papel como ativistas desta causa climática é mesmo fazer pressão junto dos órgãos legisladores, tanto quanto for possível. Por isso é muito importante o apoio, quanto mais gente melhor. O nosso objetivo principal é dar voz aos cientistas, replicar o que eles estão a dizer, informar acima de tudo”, afirma Bernardo Almeida, estudante do primeiro ano de Engenheira Física na Universidade do Minho e outro organizador da Greve Climática Braga, acrescentando também que o papel dos jovens como ativistas é simplesmente consciencializar e ter sempre atenção às oportunidades de transmitir informação a outras pessoas.

Em linhas gerais, o movimento da Greve Climática Braga tem sido bem acolhido pela população bracarense. Luís acredita que o movimento tem sido bem recebido pela comunidade pelo facto de já haver interesse a nível nacional pela causa e pela maioria das pessoas considerar as questões relacionadas com o clima problemas muito reais e urgentes. Mas nem toda a gente apoia o movimento.

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“Há gente jovem e não tão jovem contra estas coisas e nós encontramos muita resistência. Até por parte do Vereador do Ambiente da Câmara Municipal, que parece não estar muito atento a essas coisas”, refere, dizendo que o discurso do vereador durante a recente manifestação na Câmara Municipal de Braga aparentando até ao movimento ser “um bocado conflituoso, parecendo querer apagar o foco da luta climática”. 

Contactado pela revista Minha, o Vereador do Ambiente, Altino Bessa, afirmou ter tido razões para acreditar que a referida manifestação estaria a ser muito influenciada e direcionada por envolvimentos políticos, dizendo que os próprios jovens é que se afastaram do do foco principal da manifestação.

O Vereador do Ambiente disse ainda que os jovens podem contar com o seu apoio “para conversar e discutir propostas relacionadas com as alterações climáticas, sempre e quando os seus pedidos não estiverem influenciados pela participação política, e sim pelas ideias de mudanças que defendam e respaldem o tema climático”. 

O jovem refere que a geração clima tem um acesso muito mais facilitado à informação e ao conhecimento do que há vinte ou quarenta anos e, graças a isso, a voz da causa climática tem-se espalhado mais facilmente. Assim, atribuir culpas à população em geral pela falta de interesse mostrado em relação à causa climática é errado, já que isto terá acontecido não por uma questão de malícia, mas sim por “uma ignorância não propositada”.

Ainda assim, os jovens asseguram que a falta de compromisso dos políticos com a causa ambiental é uma das principais limitações que a geração clima encontra.“Tendem a descartar-nos por acharem que somos apenas jovens e que não somos maduros o suficiente para essas coisas, mas isso é totalmente errado. Nós não estamos a dizer que queremos ser presidentes ou políticos. Nos só estamos a dizer: «bom, isto está a correr mal. A comunidade científica está a dizer uma coisa e vocês estão a fazer outra». A única coisa que estamos a pedir é que ouçam os outros adultos, os cientistas, e que reajam de acordo com o que eles dizem”, explica Luís Cruz. Os jovens reiteram que a problemática ambiental é uma evidência científica e que é por isso que estão a lutar: o objetivo da greve é fazer com que os políticos deem atenção àquilo que se está a passar e que já é um facto.

“A questão climática é antiga e as grandes empresas têm consciência dos danos que estavam a causar, manipulavam ativamente a classe política que tinha o poder de resolver estas questões. A este grupo social é claro que atribuímos alguma malícia e culpa, porque eles efetivamente sabiam o que estavam a fazer”, comenta Bernardo.

O jovem refere que a geração clima tem um acesso muito mais facilitado à informação e ao conhecimento do que há vinte ou quarenta anos e, graças a isso, a voz da causa climática tem-se espalhado mais facilmente. Assim, atribuir culpas à população em geral pela falta de interesse mostrado em relação à causa climática é errado, já que isto terá acontecido não por uma questão de malícia, mas sim por “uma ignorância não propositada”. 

“O assunto simplesmente não era debatido na época como é agora. Nós temos outra facilidade de acesso à informação”, acrescenta. 

No entanto, os jovens afirmam que a problemática das grandes empresas continua vigente hoje em dia e que as inversões para desviar o olhar do mundo são cada vez maiores. 

“Eles gastam uma quantidade de dinheiro absurda. As pessoas que na altura sabiam dos danos que estavam a ser causados e que os ignoravam por causa do lucro continuam a fazer o mesmo agora”, afirma Luís. 

Para os jovens, a iniciativa do grupo está a surtir efeito, já que o objetivo principal sempre foi criar consciência, o que começou a ser feito a partir do momento em que a preocupação dos jovens se tornou um tema de debate público e os meios de comunicação se começaram a interessar pelo movimento. 

“Quanto mais os filhos são informados, mais passam essa informação aos pais e mais os pais pensam que os filhos têm razão”, comenta Bernardo, explicando que, devido a este intercâmbio de conhecimentos, são cada vez mais os pais que apoiam a causa.

“Está-se a falar muito mais disto. Não digo que no futuro a estratégia não vá mudar, mas para já tem servido. Já ouvi muita gente a dizer que não vai parar enquanto isto não mudar. Nós queremos causar um impacto real no mundo para melhorar as condições das pessoas e, no mínimo, termos um planeta onde as pessoas possam viver”, afirma Luís.

A questão da greve e o apelo que Greta fez aos jovens para faltarem às aulas às sextas feiras estão cheios de simbolismo, dizem os jovens. “Podia ser adotada outra estratégia que incorporasse esse mesmo simbolismo. Simplesmente foi o modo que a Greta encontrou de se fazer ouvir. É o modo que o mundo tem encontrado também para mostrar a sua insatisfação” comenta Bernardo, acrescentando que há “muitos professores que apoiam a causa” por terem alunos a não aparecer às aulas. 

“Agora têm mais consciência por causa disso. Os pais também adquirem maior consciência porque querem saber o porquê de os filhos não irem às aulas. E, portanto, o movimento em si causa a diferença e consciencializa”, diz. 

Bernardo assinala, no entanto, que em Portugal há um nível de burocracia real que “impede as escolas de apoiarem efetivamente o movimento”, mas os jovens reconhecem que a resistência é normal e que o objetivo da greve nunca foi o de justificar as faltas, mas sim o de tentar marcar a diferença.

Bernardo e Luís explicam que a experiência educativa que receberam na escola sobre a temática das alterações climáticas e o aquecimento global foi muito básica e superficial em comparação com tudo o que já aprenderam desde que aderiram à iniciativa do movimento da greve climática. Uma das grandes vantagens é que esta aprendizagem pode ser levada para casa e partilhada com os pais. “Quanto mais os filhos são informados, mais passam essa informação aos pais e mais os pais pensam que os filhos têm razão”, comenta Bernardo, explicando que, devido a este intercâmbio de conhecimentos, são cada vez mais os pais que apoiam a causa.

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A visibilidade dada ao movimento da greve climática tem sido enorme no mundo. Apesar do interesse que por vezes existe por parte dos média e que leva à mediatização da figura de Greta Thunberg, os jovens continuam a assegurar que a crítica é sempre boa. Mesmo que em alguns casos os preconceitos se sobreponham ao discurso da causa, a realidade indica que esta visibilidade – por vezes excessiva – e o interesse dos meios de comunicação têm servido para avivar a discussão sobre o tema climático. E, Greta Thunberg, apesar dos constantes ataques recebidos, nunca tem deixado de lado a sua premissa original: “não me ouçam a mim. Ouçam os cientistas”, tal como afirma Bernardo.

O futuro está próximo e tudo parece indicar que a geração clima será a mais afetada pelas mudanças climáticas. O objetivo é claro e as palavras de ordem nas manifestações também: “até isto mudar, nós não vamos parar”, afirma Luís. 

Por enquanto, as atividades do grupo continuam em força, sobretudo depois da experiência vivida em Madrid durante a Marcha pelo Clima, que aconteceu no passado dia 6 de dezembro, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climática (COP25). Esta convocatória conseguiu juntar milhares de pessoas, incluindo Greta Thunberg, e fez com que o sentimento de luta dos jovens ativistas do grupo Greve Climática Braga aumentasse ainda mais. Bernardo confessa que “estar no meio de um movimento tão grande como o de Madrid foi revigorante” e saber que há tantas pessoas a apoiar a causa climática deu-lhes ainda mais esperança. Mas não foi esse o único aspecto.

“Foi muito bom ver as diferentes gerações que havia lá. Havia criancinhas que tinham cartazes a dizer «estou a lutar pelo meu futuro» e depois via-se o avô dessas crianças que estava ao lado e dizia «estou a lutar pelos meus netos»”, comenta Luís. No fim de contas, este é o verdadeiro sentimento de luta de uma geração de espírito verde. 

 

 

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