Notícias

Inquérito da ACB: “medidas de apoio estão aquém ou muito aquém do que é preciso”

Os resultados do segundo inquérito promovido pela Associação Comercial de Braga (ACB) junto dos seus associados com o objetivo de identificar os efeitos da pandemia Covid-19 na atividade das empresas e a adesão às medidas de apoio revela que a maioria das empresas associadas, 77% das inquiridas, considera que as medidas de apoio que têm vindo a ser prosseguidas pelo Governo português estão aquém ou muito aquém do que é preciso.

O setor do Alojamento e Restauração é o que faz a avaliação menos favorável deste conjunto de medidas, com apenas 12% das empresas a considerar que as medidas são ajustadas ou até melhores do que era expectável. Nos setores do comércio e dos serviços a avaliação favorável sobe para os 24% e 31%, respetivamente.

 

Funcionamento das empresas

Durante o mês de abril, cerca de 62% das empresas associadas da ACB estiverem encerradas, 24% parcialmente encerradas e apenas 14% se mantiveram em pleno funcionamento. Em termos setoriais, e em virtude do encerramento dos estabelecimentos determinado pelo Governo durante o período do estado de emergência, 80% das empresas do setor do turismo estiveram encerradas e 20% parcialmente encerradas. No comércio e serviços, a percentagem de empresas encerradas rondou os 58% e 56%, respetivamente. Já, no caso da indústria, 63% das empresas mantiveram-se em pleno funcionamento e 25% a funcionar de forma parcial.

 

Volume de negócios

Em termos de volume de negócios, durante o mês de abril, 90% das empresas associadas ACB tiveram uma redução de vendas face ao período homólogo. Os setores mais penalizados foram os do “Alojamento e Restauração” com 98% das empresas a registar quebras de vendas, seguido do Comércio (89%) e dos Serviços (88%). Em contraponto, o setor industrial foi o que tem mostrou mais resiliência à crise, mas, mesmo assim, 63% das empresas registaram uma diminuição do volume de negócios.

 

Salários do mês de abril

Cerca de 27% das empresas que responderam ao inquérito, até ao momento de preenchimento ainda não tinham pago os salários do mês de abril e cerca de 12% apenas tinha pago parcialmente. Os setores que registaram mais dificuldades foram os do turismo, já que 39% das empresas ainda não tinham pago os salários, seguido dos Serviços (34%) e do Comércio (21%).

 

Lay-off simplificado

Cerca de 68% dos associados da ACB recorreu ao lay-off simplificado e mais de metade destas empresas (56%) vai prorrogar por mais um mês este mecanismo de apoio. Em sentido contrário, com a reabertura de diversos estabelecimentos, cerca de 21% das empresas que estavam em lay-off referem que não vão prorrogar a suspensão dos contratos de trabalho dos seus trabalhadores.

Apesar dos compromissos assumidos pelo Governo de liquidar os processos de lay-off até dia 5 de maio, quase 53% das empresas associadas da ACB que se encontram em lay-off ainda não tinha recebido a comparticipação da Segurança Social até ao passado dia 9 de maio. Este atraso foi um dos principais causadores do não pagamento atempado dos salários do mês de abril, uma vez que mais de metade das empresas que ainda não haviam liquidados os vencimentos ao pessoal se encontrava, ainda, a aguardar pela comparticipação do Estado.

 

Flexibilização fiscal e contributiva

O recurso às medidas de caráter fiscal e contributiva foi utilizado por 41,5% das empresas, nomeadamente para o pagamento prestacional de IVA (em 75% dos casos) e da TSU (em 60% dos casos).

 

Linhas de crédito

Anunciadas como uma das principais medidas de apoio à tesouraria das empresas, as Linhas de Crédito tardam em assumir-se como uma resposta efetiva. Cerca de 31% dos associados da ACB recorreram a este mecanismo, mas apenas 1,6% das dos pedidos de financiamento apresentados já receberam o respetivo financiamento. Cerca de 10% dos pedidos foram recusados, 64,1% ainda se encontram em processo de análise do Banco ou da Sociedade de Garantia Mútua e 23,4% têm os seus processos aprovados, mas aguardam a realização da transferência bancária.

 

Moratórias

A medida menos concorrida pelos associados ACB é a das moratórias bancárias: apenas 22% das empresas recorreram a este mecanismo, mesmo sendo aquele cuja tramitação foi mais simplificada. Cerca de 72% dos pedidos apresentados foram aceites, 15% aguardam decisão e 13% foram recusados.

À semelhança das moratórias bancárias, também a moratória do pagamento do arrendamento comercial não foi alvo de grande procura por parte das empresas (cerca de 26% confirmaram ter recorrido à medida). Neste âmbito, a maior parte das empresas cujas instalações são arrendadas preferiram tentar negociar com os proprietários uma diminuição da renda

 

Programa de incentivos

O programa de incentivos à adaptação das empresas ao contexto Covid-19 que prevê a concessão de apoio de 80% a fundo perdido, vê cerca de 76,5% dos associados ACB a ponderar candidatar-se a este mecanismo de ajuda.

Para Rui Marques, Diretor Geral da ACB, estes resultados vêm confirmar que as medidas de apoio às empresas são insuficientes e que, na maior parte dos casos, mantêm um conjunto de constrangimentos que limitam drasticamente o seu impacto, razão pela qual a ACB procedeu ao envio, há dois dias, das conclusões do Inquérito ao Governo, com o intuito de “mostrar a realidade do território e influenciar os ajustamentos que se consideram relevantes introduzir na operacionalização das medidas”.

 

Nesse sentido, a ACB considera que é imperioso:

 

  • Reforçar as linhas de crédito, uma vez que o próprio Governo reconheceu já que foram solicitados mais de 9 mil milhões de euros para uma dotação inicial de 6,2 mil milhões. O reforço destas linhas não deve inviabilizar, no entanto, a rápida operacionalização dos apoios a fundo perdido para as pequenas e microempresas, anunciados, recentemente, pelo Governo;
  • Prorrogar o atual regime de lay-off simplificado, uma vez que muitas atividades ainda não retomaram e as que retomaram dificilmente conseguirão, numa primeira fase, manter a totalidade dos postos de trabalho;
  • Estender o regime de apoio aos sócios gerentes a todas as micro e pequenas empresas que se encontrem em situação de crise empresarial.
  • Rever os prazos de diferimento e equacionar as reduções de rendas, uma vez que a primeira versão do diploma não teve em conta a dimensão da paragem económica nem a velocidade da retoma económica. A esmagadora maioria das empresas, em especial as de menor dimensão, não terá capacidade de começar a pagar renda mais duodécimo de rendas em atraso já em julho.

 

Deixar comentário