Miúda de um Planeta diferente

Desassossego da Alma

Na casca de uma árvore encontro a terra apodrecida e a inconstante forma de encontrar a pétala de uma flor de tulipa. A mensagem chegou dentro de um sonho, mas a mensagem não se derramou com o passar do tempo. Agora sei muito mais do sonho e do que ele significou, e por conhecer a sua clareza, o meu coração gelou e a minha respiração ficou mais curta e pausada, como se precisasse de uma botija de oxigénio. As nuvens do céu largaram as suas formas bonitas e o seu azul ficou cinzento, a chuva caiu sobre o meu corpo e eu solucei. Existia uma partícula de sofrimento, ainda que, incógnita. Eu sei que ele vai desaparecer com a mesma força com que chegou, porém, não sei ao certo porque choro, ou talvez o saiba, mas não vou interromper o silêncio que tenho em mim. Vou prosseguir viagem no meu baloiço e continuar dentro de uma dança constante e querida, como se vivesse para sempre dentro de um estímulo de peter pan. Há substâncias que nos mexem dentro da alma de uma forma que não conseguimos ter tempo sequer de apaziguar o coração ou o peito ou o âmago ou as cores de arco-íris que contemos, ficamos presos a uma âncora que nos coloca no chão e pouco é o vento capaz de nos levantar as asas. Talvez por desaparecerem quando não vemos mais a forma de uma borboleta. A vida é uma panóplia de emoções, é uma montanha russa de coisas e coisinhas que nos devolvem ou nos atrasam, é um mistério de amor, uma magia de acontecimentos, uma subida e uma descida. É tudo. Acho que a vida é tudo. Onde paramos. Onde caminhamos. Onde somos. Onde já não existimos. E, eu, por cá, fecho os olhos, para não me lembrar mais daqui, do hoje, deste lugar, onde sobre um frio a adormecer em mim, uma nuvem com destino e memória e estrada para estacionar, levam ondulações de inquietudes. Dentro de mim mora o medo que adormece num balão de desassossego onde não constam os risos nos lábios ou as mais doces cerejas do verão. Mas. Não, não temos que ir embora para crescer.

 

Nas ondas do mar mergulho
Para me encontrar
Tenho medo de ficar
Assim, aqui, sem mim
Perdida, e com o fim, em mim
Pouso o rosto sobre a toalha cor de flanela azul
Para arrumar o segredo que tropeça na areia
E uma solidão silenciosa
Que escrevo numa carta
Abandonada sobre a mesa
De madeira velha

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